Nesta quarta-feira (2), a humanidade oficialmente esgotou todos os recursos disponíveis no planeta para 2017 – e estamos apenas no início de agosto.
Em 1987, o chamado Dia da Sobrecarga da Terra – data em que todos os seres humanos do mundo acabaram com os recursos necessários para viver de maneira sustentável por um ano – caiu no dia 9 de dezembro.
Desde então, o limite do “orçamento natural” do planeta foi ultrapassado de maneira cada vez mais intensa, fazendo com que a data em que essa barreira é atingida seja registrada mais cedo a cada ano. Em 2016, o Dia da Sobrecarga da Terra foi 8 de agosto, seis dias depois deste ano.
“Estamos consumindo nossos recursos naturais como se fossem um produto que podemos comprar quando acaba, consumindo tanto quanto queremos dele”, disse Lena Michelsen, consultora de políticas para nutrição e agricultura da rede de desenvolvimento alemã Inkota, em entrevista à DW. “Não podemos continuar desse jeito.”
Segundo especialistas em sustentabilidade, atualmente a humanidade precisa de 1,7 planeta para suprir os recursos que consome dos ecossistemas da Terra.
“Hoje, o nosso consumo coletivo excede em 70% o que o planeta pode renovar”, avalia Mathis Wackernagel, da Global Footprint Network, um grupo de pesquisas sem fins lucrativos que, anualmente, calcula o chamado Dia de Sobrecarga da Terra (ou Earth Overshoot Day, em inglês).
O cálculo se baseia na biocapacidade do planeta – o montante de recursos naturais disponíveis – e divide essa capacidade pelo montante de recursos consumidos, também conhecido como a “pegada ecológica da humanidade”. Esse número, então, é multiplicado pelos dias do ano.
Países ricos x países de baixa renda
A rede Global Footprint Network não calcula apenas a pegada ecológica global da humanidade, mas também avalia o consumo individual dos países. Não é surpreendente que nações ricas como Luxemburgo, Catar, Austrália e Estados Unidos usem bem mais recursos que países de baixa renda, como Eritreia, Haiti, Burundi e Paquistão.
A Alemanha, por exemplo, está bem acima do nível global de consumo dos recursos naturais. “Se toda a população mundial vivesse como se vive na Alemanha, precisaríamos de 3,2 Terras para alimentar a nossa fome de consumo”, afirmou Michelsen, responsável pela organização de um protesto em Berlim neste Dia da Sobrecarga da Terra. “Em comparação, se todos vivêssemos como as pessoas em Moçambique, precisaríamos de meio de planeta por ano.”
Emissões de carbono aprofundam “pegada ecológica”
Um motivo para esse superconsumo de recursos, segundo Wackernagel, é que a população mundial está aumentando a cada ano – assim como os salários em vários países, o que aumenta também a demanda e a vontade das pessoas de consumir.
Mas um dos principais vilões do esgotamento do “orçamento natural” do planeta são as emissões de carbono, atualmente responsáveis por 60% da pegada ecológica da humanidade. Se as emissões caíssem pela metade, o “Dia da Sobrecarga da Terra” seria adiado em cerca de três meses.
Segundo o especialista da Global Footprint Network, se a humanidade fosse capaz de viver de acordo com os objetivos traçados durante a Conferência do Clima de Paris, seria possível viver consumindo menos que os recursos disponíveis do planeta até 2050.
“É totalmente possível, mas pouco provável neste momento”, acredita Wackernagel. “As tendências atuais não apontam nessa direção.”
Mudanças necessárias
Segundo Michelsen, há três fatores importantes a serem melhorados para diminuir o consumo de recursos naturais:
- produzir energia a partir de fontes renováveis;
- introduzir práticas ecológicas na agricultura (a agricultura industrial é responsável por um terço das emissões de CO2);
- alterar os padrões de mobilidade, já que voar e dirigir emitem enormes quantidades de gases de efeito estufa.
Para adiar o próximo Dia da Sobrecarga da Terra, líderes políticos mundiais precisam ajustar suas prioridades, afirma Mathis Wackernagel, da Global Footprint Network.
Todos os anos, o Fórum Econômico Mundial publica um relatório de riscos no qual lista as respostas de especialistas e formadores de opinião do mundo todo sobre quais são os riscos mais significativos para o planeta no longo prazo.
Segundo Wackernagel, no ano passado, seis dos dez indicadores tinham orientação ambiental, incluindo escassez de água, mudanças climáticas e assuntos relacionados a recursos naturais.
Ao mesmo tempo, o Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial enumera 114 indicadores que tornam um país “forte” – nenhum dos indicadores de 2016 fez menção a recursos naturais, ao meio ambiente ou às mudanças climáticas.
“Fico confuso com o fato de fingirmos que os riscos relativos aos recursos naturais, dos quais temos plena consciência, nunca vão nos afetar”, afirma Wackernagel.
Fonte: Terra Ciência