Biomassa, eólica e solar são as matrizes energéticas em destaque
Por Vitor Lillo
Dos 21 mil megawatts de energia elétrica que São Paulo produz, mais da metade (55%) vêm de fontes renováveis. Esse número já supera a média nacional (45%). É de olho nesse potencial das fontes limpas, que a Secretaria de Energia do Estado de São Paulo lançou no último dia 18 de julho o Plano Paulista de Energia (PPE).
A ideia do plano é incentivar o financiamento privado em projetos que aumentar a geração de energia limpa para 69% nos próximos sete anos. “São Paulo sempre tem projetado a matriz energética, mas agora é de maneira mais imperiosa”, afirmou o secretário estadual de Energia, José Aníbal (PSDB) em entrevista à Rádio Estadão.
Essa “maneira imperiosa” se justifica pela meta de redução das emissões de carbono em 20% até 2020, imposta pela Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), lei estadual que está em vigor desde 2009 e determina que os índices de emissão de carbono em São Paulo cheguem aos mesmos patamares de 2005.
Para atingir uma meta muito ambiciosa no pouco tempo que resta, o PPE pretende atacar em várias frentes: desde medidas de fomento à produtividade nas unidades geradores de energia, o uso de biocombustíveis até a criação uma disciplina de Eficiência Energética e Uso Racional da Energia Elétrica na rede pública de ensino.
“O plano é bastante importante e demonstra uma preocupação do Governo do Estado em incentivar geração de energia com base em fontes limpas e renováveis”, afirmam Carlos Ribeiro e Alexei Macorin Vivan, respectivamente presidente e diretor da Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica (ABCE).
Importância mesmo terá o investimento privado. Serão necessários R$ 28 bilhões para cumprir as metas, de acordo com a Secretaria de Energia. “É uma meta difícil, mas possível se focarmos na [geração de energia por] biomassa e gás natural”, afirma o professor Luiz Gonzaga Campos Porto da UNESP de Bauru.
Bagaço da cana em alta
A afirmação do professor Porto se justifica pelos números. Se você leitor pensa que a maior dos 55% de energia da geração por fontes renováveis vem dos rios, está enganado. A principal matriz energética de São Paulo é a biomassa que vem do bagaço da cana-de-açúcar, com 33%, enquanto que a água corresponde a 17%.
“Atualmente, o setor sucroenergético paulista tem 5 mil MW em operação comercial, o que mostra o potencial que a fonte ‘biomassa’ representa para o estado de São Paulo”, explica o gerente em bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar Souza. A meta do governo estadual é ampliar a geração de energia por usinas de cana para 13 mil MW até o final da década.
Porto explica que todo esse potencial se justifica pelo fato de que toda usina de cana é, em tese uma planta de geração de energia. “Toda vez que se mói a cana, tem o bagaço e então se pode gerar energia com ele como acontece já em muitas usinas. E normalmente a energia mais barata é a hidrelétrica”.
Entretanto, ainda que seja abundante e sirva de importante complemento à energia hidrelétrica – a principal matriz em uso no país – o mercado de energia ainda não dá o devido valor a essa fonte. Segundo Zilmar Souza, “os resultados dos últimos leilões têm demonstrado que os preços teto utilizados não estão viabilizando a biomassa”.
Os leilões são a principal razão dessa falta de competitividade. “[…] as distribuidoras só podem adquirir energia nos leilões públicos. O principal é que as regras dos leilões encontrem alternativas para tornar mais competitivas essas fontes de energia, em vista dos investimentos necessários”, afirmam Carlos Ribeiro e Alexei Macorin Vivan.
Alternativas “fora da tomada”
A Geração de energia através de parques de energia eólica e solar, é uma alternativa que não passa incógnita no PPE. Juntas, essas fontes respondem por pouco mais de 5% da energia gerada em São Paulo. Há muito por ser feito, mas as desvantagens – como já abordamos anteriormente neste site – ainda pesam.
Apesar do potencial solar, a tecnologia disponível ainda é muito cara para ser aplicada em grande escala. “A eficiência não é muita e o preço é alto. Agora com a crise estamos assistindo ao fechamento de enormes parques nos Estados Unidos e na Espanha”, afirma o professor Porto.
Sobre as usinas eólicas, cuja construção e manutenção são igualmente dispendiosas, o especialista levanta uma questão elementar. “Para gerar energia eólica, tem que se ter um vento constante. Esses geradores são caros, eles funcionam três meses por ano e aí o investimento fica parado ao longo do ano”, ressalta.
Pior que o obstáculo natural e técnico é, porém, a falta de coordenação estratégica. O problema das usinas eólicas construídas no Nordeste que não estão plugadas à rede elétrica, ocorre de maneira semelhante em São Paulo, onde muitas plantas geradoras de energia renovável ainda não conseguem enviar seu excedente de volta à rede elétrica.
“Em 2012, foi editada pela ANEEL a Resolução 482, que estabelece os critérios para a microgeração e para a minigeração de energia elétrica […], viabilizando o crédito de energia pelas concessionárias de distribuição, aos consumidores que gerarem energia acima de seu consumo, com base nessas fontes. Resta, ainda, uma melhor regulamentação da forma desses créditos pelas distribuidoras de energia”, afirma a diretoria da ABCE.
Parece incrível o fato do Brasil ser um dos líderes globais em matéria de energia renovável com tantos obstáculos e desafios a superar. Como tudo de grandioso que se faz por estas bandas, a força motriz dessa revolução energética está na nossa inesgotável “energia” para fazer as coisas acontecerem. Será necessária uma boa dose dela daqui em diante.
Bom dia!
Tenho um pré projeto na área de geração de energia eólica sem necessidade de ventos naturais abundantes. Gostaria de parceria para desenvolver, pois o banco Interamericano mostrou interesse em financiar a empresa que encampe o projeto.
att.
João