85 escritores das cinco regiões do Brasil se reuniram na rede social para produzir um livro de poesias, o “Vozes de Uma Alma”.
Ambiente Legal apoia o projeto e publica, semanalmente, a produção literária do grupo.
FRUTO DO AMOR
Que parto o fruto do amor!
O verter feito fruto novo!
Outro suco e sabor!
Colher em árvore inteira,
Apesar dos galhos estendidos,
Calor não comedido!
Provar mais profundamente
A raiz das transformações
No caule da existência
Onde se parte
E se tem perda e entrega
E se planta desapego que não é desleixo
E se colhe amor que não é propriedade
Onde os frutos se renovam,
Laços se reatam e se estabelecem
Onde se cresce!
Lá, bem lá,
Onde o fruto do amor
É amor que não padece.
Danúbia Ivanoff
São Bernardo do Campo/SP
BELEZA INFINITA
Quando cai a noite sombria
O céu se enche de estrelas,
Fica tão lindo! E ao vê-las
O meu riso é de alegria!
A noite avança calmamente,
E no silêncio da madrugada
A lua no céu prateada,
É um espetáculo atraente!
Encanta-me tamanha riqueza
E me perco na certeza,
Da pequenez que habita
No homem diante da vida…
Sem tempo para contemplar,
Essa beleza infinita!
Elma Leite
Pará de Minas/MG
NINFA
Ela se acostumara a não pedir.
Um dia, por orgulho ou desprezo, aprendera que o silêncio
seria sempre a resposta digna dos seus impulsos amorosos
– por medo dos atropelos apaixonados e de sua avidez tamanha.
A paixão, sempre faminta, abafava sua voz gutural de lobo solitário no seu olhar profundo.
Era bonito o silêncio com seu eco de ninfa cantando melodias vazias
no peito perdido de sol cadente.
O som inaudível batia nas rochas frias, devolvia-se derramado,
nos cabelos em cachoeira d´água,
nas margens escuras da pele e
no sôfrego cair das fechadas plantas noturnas…
mas, nada se ouvia.
Nem o bater calado de corações nas peles frias e inertes
em meio ao sono profundo de dois amantes.
Ela observava Narciso, que observa a si mesmo
refletido no seu misterioso olhar calado,
sem desconfiar a profundidade do lago em que se mirava,
tão afogado em si.
Por isso, ela não pediu nada e nada respondeu.
As ninfas não sabem falar.
Heliana Castro Alves
São Paulo/SP
MÚSICA PARA A TERRA
Na beira do rio ou na beira do prado,
na beira do mar quando é o pôr-do-sol,
a música canta por toda a ribeira
estando a carão de ti, meu amor.
Não gostas amiga sentir o salseiro
O recendo do rio nas águas de outrem
nos tempos que límpidas saltavam as escumas
que cantando vinham dos montes egrégios
como aqueles tesos cumes do Courel?
De Pena Trevinca, a das águias majestosas,
dos ninhos altíssimos das aves reais,
os ventos enviam rescendo de amores
da Terra, que beijam fervendo os cachões
de mil rios risonhos, chorosos, feridos, e sensuais.
Vem logo comigo cantar na ribeira
na beira dos rios, na beira do mar
da Terra, mais amada que nenhuma
que mil cantores celebraram jamais.
Vê-la aí vai agora, minha jóia, a chorar,!
Galiza, em seu triste caminhar.
Mas tu vem comigo à beira do mar
que ainda cantam as ondas
quando nas areias brancas da praia/ teus braços me abraçam
e teus lábios amantes vêem me beijar.
Adela Figueroa Panisse
Galiza/PT
USURPADO
Queria escrever versos calmos …
letras vivas!
Em algum lugar que me doe sentimento puro
canto que me proteja dos gritos angustiantes
que sugam a minha vitalidade
para esquecer da imagem que me causou pânico
quando acordei do pesadelo que me aprisionava no limbo ébrio
– prisão projetada por min sem sanidade mental!
mãos negras pálidas
calejadas mãos que não seguram bem a caneta
que não possuem vontade de tirar nenhum tun tun tun dos tambores
dedos golpeados pelos tempos da vida no mato
unhas quebradas por me ajudarem a tentar contar
os meus dias sem água, no interminável sertão
que secava a minha alma
osmose que tira a vida das minhas células
leve do meu corpo todo o amor violentado sem horas contadas
deixe apenas a matéria seca e pútrida
desse ser inerte que não conhece mais a alegria da sua própria estrada
pés que não conhecem o caminho de minha casa
me fazem dar voltas e voltas e voltas e voltas
e não derramam nem uma pequenina gota de sentimento
quando são insultados por uma pedra, mas sofrem calados
e com passos acelerados mantem o orgulho de serem os meu pés
rosto que não lembra das incalculáveis expressões coreografadas
durante os anos que ainda recordo
escassas lembranças, que me presenteiam com um sorriso não demostrado,
petrificam-se com a poeira das estradas
caminhos que foram sequestrados da minha insana memória desprogramada sem código de restauração
lembranças que foram trincadas como o barro seco
ao sentirem, lentamente, o mesmo sentimento que fez o meu coração
cometer suicídio por solidão
olhos que só de serem olhados
causam tormento aos olhos de quem olha
pálpebras que denunciam a quantidade de tempo
que não lembro ter vivido
roupa que não possui mais tom de vivacidade
és o único abrigo que entende as minhas necessidades emergenciais
de adaptação natural, para ainda conseguir suportar esse denso fardo
que em min foi colocado sem consulta!
me causa overdose de dor, lembrar, todos os dias,
que andei sem receber visita da minha alma perdida
em alguma dimensão temporal que desconheço.
Anderson Alcântara
Abaeté/PA