Poluição diminui espécies na Baía de Guanabara

Em 35 anos, número de golfinhos caiu de 300 para apenas 40. Diversidade de peixes e crustáceos também diminuiu.

Por André Coelho

Os dois golfinhos que adornam a bandeira da cidade do Rio de Janeiro remetem a uma baía repleta de vida que não existe mais. Encontrar com o mamífero aquático nas águas turvas da Guanabara é um evento raro. Em 1980, quando a poluição já era grande, havia 300 golfinhos vivendo na baía. Hoje, essa população foi dizimada para apenas 40, segundo pesquisa do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Uerj.No final do ano passado, o chamado boto cinza entrou na lista oficial de animais da fauna brasileira ameaçadas de extinção. O biólogo e ambientalista Mário Moscatelli afirma que outras espécies de golfinhos evitam entrar na baía devido à falta de alimentos e, também, por causa do despejo de lixo e de esgoto in natura. Outro agravante para a fauna da região é a poluição dos manguezais. Segundo o biólogo, os ecossistemas são essenciais para a preservação dos animais na baía e a destruição dos mangues atinge diretamente a vida marinha.

‘Parece que ainda tem uns pequenos grupos de golfinhos aqui pela baía, mas, a cada ano, estão sendo reduzidos. Claramente, reflexo desse processo de degradação. Visto que, se não tem comida, se não têm os animais que o golfinho come, ele não vai entrar na Baía de Guanabara. Infelizmente, a função de incrementadora da biodiversidade da baía está sendo transformada em uma grande lata de lixo.’

Na Praia de Mauá, em Magé, o cheiro de esgoto é forte. Uma língua negra de dez metros atravessa a faixa de areia, onde o lixo ocupa o lugar que já foi de caranguejos, tatuís e siris. Na manhã de ontem, a chuva da véspera havia agravado a situação, espalhando mais detritos que o normal.

O advogado Itamar Carvalho, de 50 anos, frequenta a Praia de Mauá desde a infância, quando a família dele tinha uma casa de veraneio na região. Naquela época, os peixes eram encontrados já na beira da praia.

‘Aqui tinha muita corvina, muita taínha, muito siri, camarão… hoje, diminuiu. Antigamente, a gente pegava camarão na beira da praia. Hoje você não faz mais isso. A gente está abandonado pelo estado, pelo município, pelo Governo Federal’.

Em Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara, o mau cheiro provocado pela mortandade de peixes afasta os frequentadores que, como o militar do Exército José de Souza, de 45 anos, caminham pela Praia de Icaraí. Frequentador da região há quatro décadas, ele não se lembra mais quando foi a última vez que teve coragem de mergulhar na Baía de Guanabara.

O Laboratório de Mamíferos Aquáticos da Uerj disse que para reverter o quadro em que vive a fauna local seria necessário despoluir a Baía de Guanabara e acabar com práticas que afetam os hábitos e a saúde dos animais. Entre as indicações, estão a manutenção física do habitat, o fim de construções na região da baía e a redução do trânsito intenso de navios nas áreas de proteção.

Matéria publicada originalmente em CBN-RJ.