Material particulado reduziu em até 37% a taxa de crescimento do diâmetro das árvores.
Os efeitos da poluição do ar à saúde humana já são conhecidos. Uma pesquisa do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) identificou agora que as árvores também sofrem esses efeitos, o que interfere nos benefícios ambientais prestados por elas. Os pesquisadores utilizaram como modelo a tipuana (Tipuana tipu) – uma das espécies de árvores mais comuns em São Paulo – e mostraram que os poluentes atmosféricos restringem o desenvolvimento desse tipo de planta.
Diminuir temperatura, produzir vapor de água, mitigar o escoamento da água da chuva e, inclusive, filtrar a poluição são alguns dos benefícios das árvores no ambiente urbano que estão prejudicados. “Vamos precisar muito desses serviços ambientais para a gente se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. É muito importante ter árvores na cidade. Quanto mais saudáveis elas forem, mais rapidamente a gente vai ganhar esse serviço [ambiental]. As árvores que estão crescendo neste momento estão, provavelmente, sofrendo com o efeito da poluição”, disse Marcos Buckeridge, professor do IB-USP e responsável pelo projeto.
Foram analisadas 41 tipuanas localizadas em diferentes distâncias do Polo Industrial de Capuava, em Mauá, uma das áreas mais industrializadas da região metropolitana de São Paulo. De acordo com os pesquisadores, o bairro é composto por áreas residenciais e comerciais e um polo industrial, formado por refinarias de petróleo e fábricas de cimento e fertilizantes, por onde circula grande quantidade de caminhões e carros.
Estudo
Com um instrumento semelhante a uma broca de furadeira, mas com o interior oco, chamado de sonda Pressler, os pesquisadores retiraram amostras das cascas e dos anéis de crescimento. Eles analisaram a composição química e o tamanho dos anéis e conseguiram medir a variação dos níveis de poluição do ar por diversos elementos químicos a que as plantas foram expostas durante o desenvolvimento e como esse fator influenciou o crescimento delas.
“Nós pegamos árvores que estão em posição onde há uma poluição muito forte e comparamos com árvores onde a poluição não é tão forte”, afirmou Buckeridge. Quando os anéis são muito grandes ou largos, isso indica anos de bom crescimento, ou seja, foram anos de menores níveis de poluição. Os anéis de crescimento menores ou mais estreitos, por sua vez, representam anos de crescimento ruim, quando os níveis de poluição foram maiores.
“As árvores mais próximas às vias de tráfego e expostas a concentrações mais altas de alumínio, bário e zinco, gerados pelo desgaste de peças de automóveis, tiveram menor crescimento ao longo dos anos”, mostra o estudo, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com a pesquisa, o material particulado (partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar) com tamanho de até 10 micrômetros (PM10), emitido pelo polo industrial, reduziu em até 37% a taxa de crescimento do diâmetro das árvores mais próximas à área.
Os resultados das análises da composição química das amostras das cascas foram confirmadas com dados obtidos por meio de séries temporais de emissões de material particulado na região de Capuava por cerca de 20 anos, elaboradas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
O estudo revela que os metais pesados e o material particulado influenciam o desenvolvimento das árvores ao mudar as propriedades ópticas da superfície das folhas. “Dessa forma, aumentam a temperatura e reduzem a disponibilidade de luz para a fotossíntese da planta. Além disso, podem reduzir as trocas gasosas das árvores ao acumular nos estômatos foliares – um conjunto de células nas folhas da planta que permitem a troca de gases com o ambiente e a transpiração do vegetal”.
Buckeridge destaca que a pesquisa mostrou o impacto da poluição no desenvolvimento das tipuanas e, agora, em novas etapas do trabalho, será possível calcular os impactos para a cidade como um todo. “Agora vamos ter que integrar, fazer a modelagem da arborização em São Paulo e ver, no caso da tipuana tipu, quais são esses efeitos no nível macro, mas nós não temos esse número ainda”, explicou.
Por Camila Maciel – Agência Brasil
Fonte: CicloVivo