Por Alfredo Attié
Gostaria de ponderar que esse Governo não ofereceu alternativa nem diálogo à sociedade.
Teve uma grande oportunidade, em junho de 2013. Recusou-se a conversar e mandou a polícia dos Estados reprimir pura e simplesmente (reunião e coordenação do então Ministro da Justiça Cardozo com os Governadores e Secretários de Segurança).
Após a eleição traiu quem havia dado um voto num projeto e apresentou outro projeto.
Enfrentando resistência, abandonou o Ministro da Fazenda Levy à própria sorte. Abandonou o projeto e não ofereceu nada em seu lugar.
Engendrou um Ministério político, às raias da mediocridade.
Inventou uma tese de “golpe”, para mobilizar o povo, já destituído de confiança.
Recusou esclarecer acusações e provas e, depois de provas contundentes contra o ex-Presidente (que fez bom governo, aliás), chamou-o a ser MInistro; após sérias acusações contra o Ministro da Educação, recusou-se a afastá-lo.
Atacou o Judiciário, atacou o Legislativo. Atacou o Ministério Público e a Polícia Judiciária.
Atacou a “elite”, a “classe média”, o “povo simples”, deu de ombros para várias manifestações.
Nenhum gesto de reunião, de desejar, com humildade e sinceridade, construir um novo consenso.
Nenhum sinal de desejar liderar e compartilhar a liderança para que opções sérias para saída da crise fossem apresentadas e decisões confiáveis fossem tomadas.
Atacou a imprensa.
Nenhuma proposta honesta de participação social e efetivamente popular.
Apenas os velhos discursos de ataques.
Negou a si mesmo e diminuiu sua prórpia capacidade de fiscalização: “os outros roubaram”. Mas e o PT na oposição? Nada fez?
Hoje, quando as instituições de controle se fortalecem, são atacadas como parciais. Hoje, quando uma pressão da comunidade internacional exige novas fórmulas, após aprovar novas leis, nega-se a reconhecer seu valor.
E a sociedade ainda muito passiva e paciente apenas desejou ser ouvida, sendo chamada de golpista.
Assim como mentiu no projeto eleitoral, omitiu os problemas orçamentários e tirou da visão do povo os dados que apontavam a crise econômica.
A coalizão se fez oca.
Que remédio institucional e constitucional restou? O impeachment e a cassação pelo TSE, numa corrida para a efetivação da solução mais rápida.
Quanto tempo vai sustentar sua ilusão diante de um povo menos bestializado?
Para esse povo resta-nos procurar retomar a condução do próprio destino – ou tomá-la pela primeira vez, de uma vez.
Digo-o sem paixão e sem tomar partido, apenas para provocar o debate e a análise de todas e todos.
Alfredo Attié, bacharel e mestre em direito, doutor em filosofia (USP), é magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP.
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