No mundo inteiro, a mudança climática afeta mulheres e meninas de maneiras específicas. Entender essas particularidades é o primeiro passo para caminharmos em direção a ações efetivas.
Por Jamille Nunes*
Antes conhecido como “aquecimento global”, a mudança climática é um fenômeno de aumento de temperatura da Terra, acelerado pelo desmatamento e pela alta emissão de gases de efeito estufa, provenientes de atividades humanas.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), onde cientistas estudam o tema desde 1988, esse aumento tem consequências não apenas na temperatura, mas também em outras atividades da natureza, uma vez que todo o ecossistema é interligado: haverá aumento dos níveis do mar, mudança nos períodos e na intensidade das chuvas, desaparecimento de animais, entre outros.
Mas se a população mundial inteira vai sentir tais impactos, por que precisamos falar de gênero, especificamente?
Colocar “gênero” como uma lente para enxergar a mudança climática é necessário porque ele influencia nossas relações sociais e, consequentemente, o lugar que ocupamos no mundo – literal e figurativamente.
Figurativamente porque é esperado de mulheres e meninas que desempenhem determinados papéis, como o de cuidadoras e responsáveis pelas necessidades da família ou de suas comunidades.
Literalmente porque mulheres pobres, de populações tradicionais, trabalhadoras rurais, ou moradoras das periferias urbanas moram em locais com infra-estruturas fragilizadas ou inexistentes. Além disso, elas não estão inseridas em espaços de poder, onde são feitas decisões que afetam suas vidas e bem-estar diretamente.
Quando enxergamos esses “detalhes”, entendemos que ao terem seus territórios atingidos por desastres naturais causados pela mudança do clima ou pela ação humana descontrolada, são as mulheres as responsáveis por contornar o problema e buscar solução, exercendo o trabalho de cuidado esperado delas. Isso, por exemplo, significa caminhar maiores distâncias em busca de água e combustível para cozinhar. Em casos extremos, onde há a necessidade de migração, a dissolução de suas comunidades e redes de apoio as torna mais vulneráveis à violências sexuais.
Esses são apenas alguns cenários que mostram como elas estão vulneráveis a violências específicas, especialmente levando em consideração que a maior parte da população pobre mundial é composta por mulheres.
Tendo isso em vista, não podemos cair na armadilha de olhar as populações de mulheres apenas como vítimas. Isso as representaria como passivas aos problemas, quando na realidade elas são as principais complementadoras e diversificadoras de renda de seus lares, são as que mais se deslocam por causa do trabalho profissional, e as principais pulverizadoras da economia solidária.
Inserir gênero significa enxergar os problemas pelos quais mulheres em diversos contextos passam, sem homogeneizar as experiências em torno da categoria “mulher”, e também valorizar e amplificar as iniciativas lideradas por elas para conter as consequências da mudança climática.
Fonte: Gênero e Clima
Publicação Ambiente Legal, 07/03/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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