Antes de arrumar a casa, e cuidar da magistratura, é preciso remover o lixo fétido incrustrado na política
Por Renata Santos Di Pierro*
Com muito receio estou assistindo à satanização da magistratura nacional e do Poder Judiciário como um todo. Longe de defender as questões envolvidas nesse emaranhado de altos salários, benefícios e penduricalhos, estou atenta à razão pela qual este assunto está vindo à tona da sociedade com tanto vigor.
É uma obviedade, já repisada, mas importa relembrar suas causas, mais uma vez, para que nos mantenhamos atentos. Fogo cruzado, cortina de fumaça, desintegração social, desmoralização dos poderes constituídos, várias são as faces e os propósitos dos arautos. Nada, nem ninguém, há de ser poupado neste horrendo espetáculo de aniquilamento do Brasil, promovido pelos patrocinadores do Apocalipse, a menos que saibamos reagir,a tempo e hora.
A difamação faz parte do programa de implantação do caos social, faz parte da cartilha – como muitos já disseram com toda a razão – da desmoralização da magistratura e, tal como foi com a operação Mãos Limpas, na Itália, assim está ocorrendo, no Brasil, com a Lava Jato.
Os salários são o saiote exposto da Senhora Justiça e, por conta desta anágua que deixa à mostra suas coxas, os bandidos encurralados querem chamá-la de mulher da vida, mundana, coisa que ela definitivamente não é. Dona Corte tem seus justos e virtuosos membros, inclusos alguns amigos que afianço.
É truque vil, panfletagem maldosa, manobra de massas, toque de berrante para mudar o caminho da boiada. Eis que não é tempo de desintegrar o país. Ao contrário, devemos nos unir em prol da ordem e das prioridades que nos convém, deixando para depois qualquer outro tema, mesmo que de grande importância. Simples assim: não é hora de desarticular um Poder imprescindível como o Judiciário, acuando nossos magistrados e demais operadores da Justiça.
Excetuam-se, claro e a qualquer tempo, os magistrados boquirrotos, os corruptos, aos quais se deve dar tratamento isolado, pontual e imediato. Mas são a exceção que não muda a regra.
Necessitamos enxergar nossa Pátria como uma casa enorme e imunda, a demandar faxina pesadíssima que ocupará tempo e grande esforço nosso. Temos, sim, que limpar cada cômodo, com capricho, mas a seu tempo e conforme a urgência.
A Justiça é uma gordota na nossa sala de estar com bibelots demais e bagunçada, é bem verdade, mas que nem de longe se compara à nossa lixeira, onde se acotovelam, aos montes, os vorazes ratos políticos. Certamente nossa prioridade há de ser o lixo político, decomposto e fétido. É dele que nossas narinas, olhos e alma estão encharcados. E quem, senão a Dona Justiça – e seus demais operadores sérios e comprometidos, em todas as esferas – vai se levantar do sofá e nos ajudar no extermínio dos invasores indesejáveis?
É este lixo de roedores insaciáveis que está atravancando a casa toda, aos guinchos ensurdecedores, destruindo os pilares, proliferando desgovernado e nos impedindo de usufruir o espaço com conforto e prazer. Dele devemos nos ocupar com afinco e já.
Portanto, meus caros compatriotas, temos de incinerar o lixo e matar as ratazanas, o quanto antes, porque estamos atrasados.
A sala? A sala arrumaremos depois, dando saiote mais justo e à medida para Dona Justa.
E, convenhamos, sequer é mesmo hora de recebermos visitas.
*Renata Di Pierro é advogada civilista, especializada em Direito Político, Financeiro e Administrativo pela USP
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