Por José Eduardo Cavalcanti*
O Rio Paraopeba foi o corpo receptor final dos cerca de 12 milhões de metros cúbicos de lama proveniente da Barragem 1 de rejeitos da Vale, resultado do barramento do ribeirão Ferro-Carvão, na região de Córrego do Feijão, no município de Brumadinho, a 65 km de Belo Horizonte deixando até o momento um saldo de 193 mortos e 115 pessoas desaparecidas, além de uma grande devastação ambiental.
A lama de rejeitos se espalhou por uma área de 290 hectares e seguiu pelo Ribeirão Ferro-Carvão até desaguar no Rio Paraopeba, depois de percorrer nove quilômetros, pouco mais de duas horas depois do rompimento da barragem em Brumadinho, no dia 25 de janeiro.
A nascente do rio Paraopeba está localizada ao sul no município de Cristiano Otoni e sua foz está na represa de Três Marias, distante cerca de 330 km de Brumadinho, no município de Felixlândia, ambos em Minas Gerais. A extensão do rio é de 546.5 km e sua bacia cobre 13 643 km² e 48 municípios (35 com sede na bacia).
Seus principais afluentes são os rios Águas Claras, Macaúbas, Camapuã, Betim, Manso e o ribeirão Serra Azul. Estes três últimos cursos de água são represados para formação dos três reservatórios que compõem o Sistema Paraopeba: Sistema Vargem das Flores, Sistema Rio Manso e Sistema Serra Azul, respectivamente.
Com o lançamento da massa de rejeitos, as águas do rio Paraopeba têm sofrido substancial alteração em sua qualidade físico-química e biológica tanto na fase líquida quanto nos sedimentos.
Os rejeitos lançados são a massa da suspensão armazenada na barragem da polpa de rejeitos proveniente da Mina do Córrego de Feijão em que há um processo para a produção do pó de óxido de ferro que possui alta pureza, a partir do minério chamado hematita, mineral que é um dos mais importantes minérios de ferro.
Tal minério é encontrado em vários tamanhos e várias concentrações de ferro, (50,0% a 60,0% nos itabiritos e 60,0% a 69,0% nos minérios hematíticos) possuindo assim diversas classificações. Os principais contaminantes são o alumínio e o silício.
Ao todo, o Complexo de Paraopeba produziu 26,3 milhões de toneladas de minério de ferro em 2017.
Além dos rejeitos da mineradora a lama agregou também uma diversidade de materiais, animais, vegetação e rejeitos diversos encontrados no talvegue receptor ao longo dos 9 km de trajeto antes de ganhar o rio Paraopeba.
O rio Paraopeba, dentre outros usos, é utilizado como manancial de captação de água para vários municípios da bacia incluindo a Região Metropolitana de Belo Horizonte através do Sistema Integrado do Rio Paraopeba.
Trata-se do conjunto de empreendimentos de reservação, captação, tratamento e distribuição de água composto por três reservatórios construídos para armazenamento e captação de água: Sistema Rio Manso, Serra Azul e Sistema Vargem das Flores. Os três sistemas funcionam de forma integrada para abastecimento. A captação é de 5 m3/s do Rio Paraopeba, que é bombeada para a ETA Rio Manso.
Outras captações no rio Paraopeba abastecem os seguintes municípios a jusante de Brumadinho: Belo Vale, Igarapé e São Joaquim de Bicas e Pará de Minas.
Tendo em vista monitorar a qualidade da água do rio Paraopeba o Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM em conjunto com a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais – COPASA, Agência Nacional de Águas – ANA e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM instituíram uma rede integrada de monitoramento de qualidade das águas e sedimento.
O objetivo da rede é integrar os dados gerados por estas instituições para garantir maior abrangência na avaliação e transparência dos impactos gerados pelo rompimento da barragem no Ribeirão Ferro e Carvão e no Rio Paraopeba.
Estas instituições já promovem o monitoramento rotineiro no rio Paraopeba, o qual foi intensificado devido ao rompimento da barragem. Nos pontos definidos para a rede emergencial – um total de 20 pontos – o monitoramento é diário ou várias vezes por dia, por período indefinido, até quando se julgar necessário.
Cabe ao IGAM o monitoramento dos parâmetros básicos da água em 11 pontos: condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, pH, temperatura, turbidez, sólidos totais, sólidos dissolvidos totais, sólidos em suspensão totais, bem como os metais: alumínio dissolvido, ferro dissolvido e manganês total. Também são analisados os seguintes contaminantes: arsênio total, cádmio total, chumbo total, cobre dissolvido, cromo total, mercúrio total, níquel total, zinco total e selênio total.
O IGAM está ultimando a instalação de mais 4 estações de amostragem localizadas em áreas mais próximas ao rio São Francisco, sendo 3 dentro do reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias e o quarto antes da UHE Retiro Baixo.
Cabe a COPASA o monitoramento dos seguintes parâmetros em 3 pontos: temperatura, oxigênio dissolvido, turbidez e pH e a série de metais e ao CPRM, em 6 pontos: temperatura, condutividade elétrica, pH, oxigênio dissolvido e turbidez.
Para este artigo, por questão de espaço, limitaremos apresentar os resultados do monitoramento da qualidade da água do rio Paraopeba com relação a metais pesados medidos pelo IGAM no período de 25 de janeiro a 28 de fevereiro de 2019 abrangendo 11 pontos e pela COPASA medidos apenas na captação de Brumadinho no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 e pela Fundação SOS Mata Atlântica medidos em 22 pontos do rio no período de 2 a 8 de fevereiro de 2019.
Os monitoramentos do IGAM e da COPASA ainda prosseguem, sendo que o da Fundação SOS Mata Atlântica se limitou a uma única campanha.
No caso dos pontos BP036 e BP068, os resultados foram obtidos momentos antes do desastre, no dia 25/01. As informações avaliadas a seguir se referem aos dados do monitoramento realizado pelo IGAM. Estes resultados podem ser utilizados como “background”:
Chumbo (padrão 0.01 mg/L)
Foi verificada violação para o chumbo total em quase todas as estações principalmente a partir de fevereiro. O limite estabelecido pelo Conama 357 para o chumbo é de 0.01mg/L.
Em Brumadinho, (BP036) a concentração histórica máxima para este metal era de 0.021 mg/L com um valor médio de 0.008 mg/L. Em nenhum dos dias do período este valor foi ultrapassado tendo atingido um máximo de 0.015mg/L em 22/2. Em 28/2 o valor era de 0.011 mg/L.
Na captação da Copasa (BPE2), em Brumadinho, não há registros quanto a concentração histórica máxima e média para este metal. O maior valor atingido no período foi de 0.069 mg/L no dia 26/1. A partir deste dia as concentrações foram se reduzindo sendo alcançado em 28/2 o valor de 0.025 mg/L.
A 5 km a jusante da captação da Copasa (BP068), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.035 mg/L com um valor médio de 0.009 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.147mg/L também no dia 26/1. A partir deste dia as concentrações foram se reduzindo tendo alcançado em 28/2 o valor de 0.018 mg/L.
A jusante da foz do ribeirão Sarzedo (BP070), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.027 mg/L com um valor médio de 0.009 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.09 mg/L em 27/1. Em 28/2 o valor foi de 0.013 mg/L.
A jusante da foz do rio Betim (BP072), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.044 mg/L com um valor médio de 0.011 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.038 mg/L em 23/1. Em 28/2 o valor foi de 0.009 mg/L, inferior à média histórica.
A jusante da captação de Pará de Minas (BPE3), o maior valor atingido no período foi de 0.038 mg/L em 23/1. Os registros se iniciaram somente em 12/2. O maior valor foi registrado em 19/2 atingindo 0.037mg/L. Em 28/2 o valor foi de 0.01 mg/L, (padrão da classe).
Na captação de Pará de Minas, (BPE4), o maior valor atingido no período foi de 0.017 mg/L em 19/2. Os registros se iniciaram somente em 8/2. O maior valor foi registrado em 19/2 atingindo 0.037mg/L com tendência decrescente. Em 28/2 o valor foi de 0.011 mg/L.
Na localidade de São José, (BP082), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.023 mg/L com um valor médio de 0.008 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.036 mg/L em 19/2 com tendência decrescente. Em 28/2 o valor foi de 0.01 mg/L, (padrão da classe).
Logo após a foz do ribeirão São João, (BP083). A concentração histórica máxima para este metal era de 0.018 mg/L com um valor médio de 0.008 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.036 mg/L em 19/2. O maior valor foi registrado em 20/2 atingindo 0.017mg/L com tendência decrescente. Em 28/2 o valor foi de 0.011 mg/L.
A jusante da foz do rio Pardo, (BP078), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.027 mg/L com um valor médio de 0.009 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.012 mg/L em 25/2. Em 28/2 o valor foi de 0.011 mg/L.
A jusante da Barragem de Três Marias, (BP099), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.012mg/L com um valor médio de 0.006 mg/L. O maior valor atingido no período foi de 0.011 mg/L em 17/2. Em 28/2 o valor foi de ,0.005 mg/L. (padrão da classe).
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de chumbo tiveram um máximo de 0.940 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.010 mg/L. Em 25/2, a concentração de chumbo foi de 0.035 mg/L.
Mercúrio (0.0002 mg/L)
A presença de mercúrio é registrada em várias das estações de monitoramento do IGAM principalmente nas estações BPE2 e BPO68 com valores surpreendentemente elevados em boa parte do período medido, o que faz supor que estejam prejudicados por erro analítico, exceto pela concentração medida no dia 28/2.
O próprio IGAM registrou para este metal apenas as seguintes considerações em seu Informativo 27 de 1/3/2019:
“Na coleta realizada no dia 28/02, não foi observada violação ao padrão de mercúrio total em nenhuma estação e todos os resultados estiveram abaixo do limite de detecção do método analítico. O limite estabelecido pela Resolução Conama nº 357/2005 para o mercúrio é de 0.0002mg/L.”
Em contraposição, a Copasa não detectou mercúrio em nenhuma de suas análises na captação de Brumadinho ao longo do período o que reforça àquela suspeita.
Talvez por esta razão, estes dados foram desconsiderados pelo IGAM.
Cádmio (Padrão 0.001 mg/L)
Na captação da Copasa (BPE2), não há registros quanto a concentração histórica máxima e média para este metal. O único registro em desconformidade no período foi de 0.004 mg/L nos dias 26/1. Em 28/2 o valor de 0.0005 mg/L.
A 5 km a jusante da captação da Copasa (BP068), em Brumadinho, não há registros quanto a concentração histórica máxima e média para este metal. Os únicos registros em desconformidade no período foram de 0.004 mg/L e 0.002 mg/L, respectivamente, nos dias 26/1 e 14/2. Em 28/2 o valor de 0.0005 cromo tiveram um máximo de 0.622 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.020 mg/L. Em 25/2, a concentração de cromo foi de 0.039 mg/L. No levantamento do IGAM não há registro de alteração do nível de cromo neste ponto.(BPE2) ou em qualquer outro.
A jusante da foz do Ribeirão Sarzedo (BP070), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.027mg/L com um valor médio de 0.009 mg/L. . O único registro em desconformidade no período foi de 0.0019 mg/L no dia 27/1. Em 28/2 o valor de 0.0005 mg/L.
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de cádmio tiveram um máximo de 0.227 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.002 mg/L. Em 25/2, a concentração de cádmio foi de 0.010 mg/L.
Cromo (Padrão 0.05 mg/L)
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de cromo tiveram um máximo de 0.622 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.020 mg/L. Em 25/2, a concentração de cromo foi de 0.039 mg/L. No levantamento do IGAM não há registro de alteração do nível de cromo neste ponto.(BPE2) ou em qualquer outro.
Cobre (Padrão 0.009 mg/L)
A jusante da captação de Pará de Minas (BPE3), não há registros quanto a concentração histórica máxima e média para este metal. O único registro em desconformidade no período foi de 0.0104 mg/L no dia 12/2. Em 28/2 o valor de 0.0051 mg/L.
Logo após a foz do ribeirão S. João (BP083), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.009mg/L com um valor médio de 0.004 mg/L. O único registro em desconformidade no período foi de 0.0092 mg/L no dia 13/2. Em 28/2 o valor de 0.005 mg/L.
A jusante da Barragem de Três Marias, (BP099), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.009mg/L com um valor médio de 0.004 mg/L. O único registro em desconformidade no período foi de 0.0093 mg/L no dia 16/2. Em 28/2 o valor de <0.004 mg/L.
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de cobre tiveram um máximo de 1.917 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.006 mg/L. Em 25/2, a concentração de cobre foi de 0.068 mg/L. No levantamento do IGAM não há registro de alteração do nível de cobre neste ponto.(BPE2) ou em qualquer outro.
Níquel (Padrão 0.025 mg/L)
Na captação da Copasa (BPE2), os únicos registros em desconformidade no período foram de 0.053 mg/L. 0.031 mg/L e 0.028 mg/L, respectivamente, nos dias 26/1, 31/1 e 17/2. Em 28/2 o valor foi de 0.01 mg/L.
A 5 km a jusante da captação da Copasa (BP068), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.022 mg/L com um valor médio de 0.008 mg/L. Os únicos registros em desconformidade no período foram de 0.109 mg/L, 0.049 mg/L, 0.026 mg/L e 0.036 mg/L, respectivamente, nos dias 26/1, 31/1,14/2 e 17/2. Em 28/2 o valor foi de 0.009 mg/L.
A jusante da foz do ribeirão Sarzedo (BP070), a concentração histórica máxima para este metal era de 0.019 mg/L com um valor médio de 0.008 mg/L. Os únicos registros em desconformidade no período foram de 0.033 mg/L. 0.04 mg/L e 0.078 mg/L, respectivamente, nos dias 7/2, 26/2 e 27/2. Em 28/2 o valor foi de 0.01 mg/L.
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de níquel tiveram um máximo de 0.894 mg/L em 26/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.020 mg/L. Em 25/2, a concentração de niquel foi de 0.037 mg/L.
Zinco (Padrão 0.18 mg/L)
Em Brumadinho, (BP036) , a concentração histórica máxima para este metal era de 0.1 mg/L com um valor médio de 0.043 mg/L. O único registro em desconformidade no período foi de 0.186 mg/L em 25/1. Em 28/2 o valor foi de 0.063 mg/L.
A 5 km a jusante da captação da Copasa (BP068) , a concentração histórica máxima para este metal era de 0.098 mg/L com um valor médio de 0.039 mg/L. O único registro em desconformidade no período foi de 0.25 mg/L em 26/1. Em 28/2 o valor foi de 0.055 mg/L.
No monitoramento da Copasa realizado na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM) no período de 25 de janeiro à 25 de fevereiro de 2019 as concentrações de zinco tiveram um máximo de 0.6861 mg/L em 31/1 com tendência de queda. O valor de “background”, observado em 25/1 foi de <0.100 mg/L. Em 25/2, a concentração de zinco foi de <0.100 mg/L.
Fundação SOS Mata Atlântica
Os pontos de coleta da campanha realizada foram distribuídos ao longo do curso do rio Paraopeba, com distâncias que variaram de 15 a 40 quilômetros entre eles.
O trecho monitorado abrangeu os municípios ribeirinhos diretamente afetados, nesta ordem: Brumadinho, Ibirité, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Igarapé, Betim, Juatuba, Esmeraldas, Florestal, Pará de Minas, São José da Varginha, Pequi, Fortuna de Minas, Cachoeira da Prata, Maravilhas, Papagaios, Paraopeba, Caetanópolis, Pompéu, Curvelo e Felixlândia.
Foi adotada a metodologia do “Observando os Rios” que agrega aos indicadores físicos, químicos e biológicos, parâmetros e percepção utilizando 16 parâmetros do IQA: temperatura da água, temperatura do ambiente, turbidez, espumas, lixo flutuante, odor, material sedimentável, peixes, larvas e vermes vermelhos, larvas e vermes brancos, coliformes totais, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), potencial hidrogeniônico (pH), fosfato (PO4) e nitrato (NO3).
As amostras analisadas em laboratório foram os índices de Condutividade Elétrica do Meio Aquático, Total de Sólidos Dissolvidos (TDS), Dureza, Cobre (Cu), Alumínio (Al), Magnésio (Mg2+), Manganês (Mn2+), Ferro (Fe3+) e indicadores microbiológicos.
O levantamento da qualidade da água do rio Paraopeba abrangeu o período de 2 a 8 de fevereiro em um total de 22 pontos de monitoramento distribuídos ao longo do rio, sendo que cada ponto foi analisado uma única vez.
Os metais pesados analisados foram somente o cromo e o cobre.
Com relação ao cromo, a amplitude de concentração variou de um mínimo de 0.7 mg/L medido no ponto 18 (Pompeu condomínio
Recanto das Águas) na data de 8/2 até um máximo de 2.1 mg/L medido no Ponto 14 (Jusante da captação de Pará de Minas) na
data de 4/2.
Com relação ao cobre, a amplitude de concentração variou de um mínimo de 2.5 mg/L medido no ponto 19 (Curvelo Cachoeira do Choro) na data de 8/2 até um máximo de 5.4 mg/L medido no Ponto 12 (Fortuna de Minas) na data de 5/2.
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados dos monitoramentos realizados houve de fato um incremento na concentração de metais pesados ao longo do rio Paraopeba devido ao rompimento da barragem.
Entretanto, a medida que passava o efeito da onda de rejeitos as concentrações de metais pesados no rio foram decaindo até alcançarem os limites estabelecidos pelos padrões ou próximos a eles.
Os resultados históricos mostram que o rio Paraopeba é isento de metais pesado sendo que as concentrações de “background” encontravam-se no limite de detecção do método analítico muito abaixo dos padrões estabelecidos para a classe.
Entretanto há episódios esporádicos da presença de metais pesados em valores superiores aos padrões em quatro dos pontos monitorados de acordo como IGAM.
Como era de se esperar, em se tratando de monitoramentos em rios, os resultados divergem em função dos critérios de coleta adotado por cada uma das entidades que realizou os monitoramentos, local amostrado, dia e hora da coleta.
Com relação a estes resultados, o IGAM alerta que “as coletas realizadas em pontos coincidentes pelo IGAM e COPASA, apesar de terem sido realizadas no mesmo dia, foram coletadas em horários diferentes, o que acarreta em resultados distintos, uma vez que é sabida a variação natural das concentrações ao longo do tempo e ao longo do perfil do rio.
Além disso, a metodologia de abertura para a análise de metais totais utilizada pela COPASA foi diferente da metodologia utilizada pelo laboratório contratado pelo IGAM. Tal fato acarreta uma leitura de diferentes frações de metal. No caso da leitura da COPASA são quantificadas frações que estão ligadas mais fortemente à matriz de sólidos, por isso os valores tendem a ser mais elevados”.
A SOS Mata Atlântica encontrou resultados dos dois únicos metais por ela analisados, cromo e cobre surpreendentemente com ordem de grandeza muito superior aos encontrados pelo IGAM e COPASA para estes mesmos metais no mês de fevereiro (período da expedição da SOS Mata Atlântica). Nos 20 pontos analisados (não há registro para os 2 restantes), a amplitude para o cromo situou-se entre 0.7 e 2.1 mg/L enquanto para o cobre, a amplitude foi entre 2.5 e 5.4 mg/L.
O IGAM, por sua vez, não encontrou presença de cromo e de cobre em concentrações acima do padrão em nenhum ponto ao longo do período monitorado.
Já a COPASA encontrou para o cromo no mês de fevereiro (dia 5/2), correspondente ao mesmo período do monitoramento da SOS Mata Atlântica, na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM), porém com o valor máximo de 0.2992 mg/L. Para o cobre, a COPASA encontrou dia 7/2, dentro portanto do período correspondente ao monitoramento da SOS Mata Atlântica, na captação de Brumadinho (BPE2 no monitoramento do IGAM), o valor máximo de 0.6759 mg/L.
No dia 28 de fevereiro, último dia do período do levantamento considerado neste artigo os metais pesados analisados pelo IGAM, principalmente e COPASA se aproximaram dos valores históricos e dos padrões, conforme tabela:
Deve-se dizer que os metais pesados encontrados são provavelmente de ocorrência natural fazendo parte da composição do solo e do próprio minério, embora outros materiais tenham sido carreados para o rio arrastados pela onda da lama.
Observa-se que apesar da presença de metais pesados na água bruta do Paraopeba a água tratada fornecida à população após o restabelecimento do tratamento de água, paralisado devido principalmente à turbidez, estará provavelmente isenta de metais pesados retirados da água pelo tratamento convencional das ETAs (Copasa e Pará de Minas) dentro, pois, dos padrões de potabilidade (incluído todos os demais parâmetros).
Esta presunção se deve ao fato de que a ocorrência destes metais na água bruta nestas concentrações se deu na forma de óxidos metálicos em suspensão na forma de turbidez, não havendo pois a necessidade, para se adequar aos padrões, de se promover a remoção de metais solubilizados sob a forma de hidróxidos metálicos em pHs ótimos de insolubilidade. Caso contrário, as ETAs existentes não estarão preparadas.
Este artigo objetiva contribuir para o restabelecimento da verdade dos fatos, uma vez que muita exploração política e midiática tem surgido acerca da qualidade das águas do rio Paraopeba fortemente afetadas pela tragédia de Brumadinho.
Maiores informações podem ser obtidas nos Informativos diários dos parâmetros de qualidade das águas nos locais monitorados ao longo do Rio Paraopeba, após o desastre na barragem B1 no complexo da Mina Córrego Feijão da Mineradora Vale/SA no município de Brumadinho – Minas Gerais de autoria do Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM em conjunto com a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais – COPASA, Agência Nacional de Águas – ANA e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, ou Observando os Rios da Fundação SOS Mata Atlântica.
Este artigo se baseou nos dados constantes do Informativo Nº 27 de 1 de março de 2019
(Mar 2019)
*José Eduardo W. De A. Cavalcanti – É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br
Fonte: Instituto de Engenharia