A importância do planejamento da arborização urbana e do manejo correto dos espécimes para evitar acidentes.
Por Sérgio Brazolin*
Verão é tempo de chuvas e ventos fortes! Não é novidade a suscetibilidade das árvores nessas condições climáticas. Prefeituras e concessionárias de energia elétrica têm que se preparar para evitar acidentes, que podem afetar o trânsito, os serviços de fornecimento de energia elétrica e causar danos às propriedades e, na pior situação, às pessoas.
Podemos considerar o ser vivo árvore como uma estrutura complexa que, diante de forças do vento ou instabilidade do solo, com a copa e o tronco encharcados pelo excesso de chuva, ficará sujeita à queda. Nas cidades em que a arborização urbana não foi planejada ou não há o manejo adequado, esse risco se agrava pela escolha inadequada do local ou das espécies de árvores. Somam-se a isto as interferências urbanas que afetam o crescimento, como o tamanho dos canteiros e das calçadas e as redes de abastecimento de energia, água, esgoto e gás. A ação do homem na execução de podas inadequadas pode desequilibrar a árvore e favorecer o apodrecimento do tronco e raízes, o que também é um fator significativo para a queda.
A tomada de decisão sobre o manejo adequado depende do conhecimento da biologia das espécies, das pragas, dos organismos deterioradores, como cupins e fungos, e da fisiologia e anatomia vegetal. Para a análise do risco de queda, acrescenta-se a biomecânica das árvores, área da ciência relativamente nova que reúne o conhecimento de engenharia e biologia e que considera a árvore como uma estrutura, sujeita às intempéries, mas que também reage às interferências externas. Portanto, caracteriza-se a necessidade da formação e aprimoramento dos profissionais responsáveis pela avaliação das árvores dos quais muitas vezes carecem as prefeituras.
Apesar do conhecimento existente, deve-se ressaltar que a avaliação do risco de queda de uma árvore possui incertezas. No entanto, elas tendem a diminuir com a utilização de equipamentos para avaliações não destrutivas e de tecnologias confiáveis de diagnóstico. Institutos de pesquisa e universidades têm papel importante no aprimoramento dos critérios de tomada de decisão, com base técnica e científica, para ajudar o poder público na gestão da arborização urbana.
Hoje, o principal gargalo tecnológico está na avaliação das raízes pelo fato de estarem enterradas. É necessário verificar sua distribuição e sanidade; a tecnologia de tomografia e radar está sendo validada em todo o mundo para esta situação, inclusive no Brasil. A fatalidade ainda acontece, uma vez que não é possível se inferir sobre o estado do sistema de raízes das árvores, e exemplares completamente sadios também podem cair pela ação do vento e peso próprio. Entretanto, é inadmissível, diante de evidências objetivas de problemas, não se estabelecer uma manutenção preventiva a fim de minimizar os riscos às cidades.
Em bairros de arborização melhor estabelecida, vive-se o dilema de os exemplares estarem iniciando seu processo de declínio e necessitarem de mais cuidados. Tecnicamente é necessário um monitoramento mais frequente e práticas de manejo, o que inclui a decisão sobre a remoção ou poda das árvores. Deve-se evitar qualquer postura ‘conservadora’, que descaracterize as árvores das cidades com podas drásticas, além de uma pró-atividade ‘conservacionista’ equivocada, que impeça qualquer manejo necessário a favor da segurança.
Cabe à prefeitura e às empresas que venham a serem contratadas para trabalhar com a arborização urbana, a utilização do melhor conhecimento e da tecnologia mais moderna para a iniciação, com urgência, do inventário de árvores da cidade, estabelecendo-se um programa de manejo preventivo, com prioridade para os bairros com arborização mais antiga, as avenidas e os locais com grande concentração de veículos e pessoas, entre outros critérios.
Em um projeto piloto e abrangente, o IPT tem desenvolvido este tipo de trabalho essencial em conjunto com a prefeitura de Mauá (SP), financiado pelo Fundo Estadual de Defesa de Interesses Difusos – FID de São Paulo. É primordial que esse manejo esteja concatenado com um programa de planejamento e plantio para mantermos a paisagem e os serviços ambientais que as árvores oferecem às cidades. Esses programas devem estar contextualizados em um Plano Diretor de Arborização Urbana efetivo, que independa de mudanças na gestão e que garanta o convívio harmônico entre os elementos urbanos e os cidadãos.
Saiba mais em: www.ipt.br
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Muito bom!
Parabéns pelo esforço e dedicação com o texto.
Precisamos melhorar muito nossa política de arborização , tanto na parte de prevenção a quedas quanto a necessidade de plantações mais abundantes
Gostei muito do artigo…Devia ter leis mais rigorosos para que árvores antigos sejam sempre avaliados em espaços público. Eu moro na cidade de Quintana interior de São Paulo. No dia 25 de Dezembro de 2019 um pé de eucalipto muito velho na praça principal da pr cidade caiu …e matou o meu filho caçula.. o menino tive muitas fraturas cortes e ferimentos internos e morei no hospital de Pompéia uma hora após o acidente…e doloroso saber que isso podia ter sido evitado..ele só tinha 14 anos