Projeto gaúcho de reciclagem completa cinco anos e 19 mil veículos triturados
Por Mariana Goldmeier Tochetto
Para enfrentar o problema da superlotação dos depósitos de veículos no Rio Grande do Sul, o DETRAN/RS iniciou, há cinco anos, um projeto que já reciclou mais de 19 mil veículos. Desde 2010, as sucatas abandonadas em depósito há mais de dois anos e que não podem ser leiloadas são trituradas e transformadas em aço para a indústria e a construção civil.
Além de liberar espaço nos pátios, a atividade também reduz o impacto ambiental gerado pelos veículos parados há anos nos depósitos e impede o uso indevido de peças. “Nosso objetivo é oferecer nos depósitos um espaço adequado para atender as pessoas, evitar a poluição do solo e a proliferação de insetos, além de minimizar a poluição visual das cidades”, afirma o chefe da Divisão de Depósitos, Antonio Carlos Barbará.
O projeto só foi possível com a criação de duas portarias que regulamentaram o tempo máximo para o veículo ficar em depósito. O material que está há mais de dois anos em um CRD (Centros de Remoção e Depósito, unidades credenciadas pelo DETRAN/RS com espaço para receber veículos guinchados) e que não pode ser leiloado por restrições judiciais e/ou policiais é classificado como material inservível. Sem condições de segurança para circular e com impeditivos legais para a comercialização de peças, o material inservível pode ser encaminhado à reciclagem após a comunicação aos proprietários através de edital público.
Os 180 Centros de Remoção e Depósito em atividade no RS abrigam, atualmente, mais de 95,6 mil veículos, e aproximadamente 40% (37,5 mil veículos) são classificados como material inservível e estão aptos a ser reciclados.
Histórico
Em 2010, na fase experimental do projeto, o Detran/RS encaminhou para reciclagem 604 veículos. Quatro anos depois, o número de unidades recicladas saltou para 8.142, número 13,5 vezes maior. Em 2015, até fevereiro, 160 veículos passaram pelo processo, com estimativa de serem destinados em torno de sete mil unidades até o final do ano. Desde o início do projeto, o DETRAN/RS contabiliza cerca de 19 mil sucatas reaproveitadas.
O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado a realizar esse tipo de projeto no país, sendo referência nacional e servindo de inspiração para criação de iniciativas semelhantes no Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Alagoas tem um projeto em fase de implantação, e representantes de outros seis estados visitaram o órgão gaúcho para conhecer seu modelo: Acre, Amapá, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O processo de reciclagem
O processo de reciclagem é realizado em quatro etapas. Primeiro, o Detran/RS realiza um levantamento do número de veículos a serem reciclados e estima o peso do material ferroso, o qual será leiloado na Central de Licitações do Estado (Celic). A empresa vencedora do certame fica responsável por todo o trabalho de destinação, que é supervisionado pela Autarquia. No último leilão, ocorrido em outubro de 2014, o quilo do aço foi arrematado pela Gerdau a R$ 0,18.
Após execução das atividades administrativas e cumpridos os prazos legais, é realizado o processo de descontaminação: retirada da bateria, extintor, fluidos, entre outros componentes potencialmente poluidores.
Um automóvel leva em torno de 10 a 15 minutos para ser descontaminado, dependendo de seu estado de conservação. Por dia, podem passar pelo processo até 80 veículos.
Ainda no pátio do depósito, é realizada a compactação dos carros, etapa seguinte da reciclagem. O processo impede o reaproveitamento de peças e reduz o volume dos veículos, o que facilita o transporte. O procedimento é feito por uma prensa acoplada em um caminhão. Conforme seu tamanho, a prensa pode compactar de um a cinco veículos por vez, em menos de dois minutos. Com isso, um automóvel fica do tamanho de uma geladeira.
O material “prensado” é então levado para uma siderúrgica. Na fase final, já na siderúrgica, os veículos compactados são colocados, em blocos dispostos em fila, em um equipamento que realiza sua trituração e seleção — processo que separa os metais de outros materiais. A separação é realizada por meio de esteiras magnéticas e banhos químicos. Na siderúrgica, as máquinas utilizadas têm capacidade de triturar cerca de 200 carros por hora.
Os resíduos de metal, principalmente o aço, são fundidos e se tornam matéria-prima industrial. Conforme a Gerdau, siderúrgica que atualmente tem recebido os materiais, o processo de fusão do aço chega a 1.500ºC e leva, em média, 40 minutos para transformar a sucata em material líquido. Os outros materiais, como o plástico, são encaminhados para empresas de reciclagem.
Mariana Goldmeier Tochetto – Analista – Jornalismo – Assessoria de Comunicação Social – DETRAN/RS
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