Por Maynard Marques de Santa Rosa*
Referenciais de conduta são os valores que o indivíduo adota para a vida e a relação com os outros. Há referenciais que valem para o próprio e outros que interessam, também, aos demais. No primeiro caso, a sobriedade e a autodisciplina, por exemplo, vão ajudá-lo a viver mais e melhor. No segundo, a discrição, a temperança e a honestidade vão lhe permitir conquistar a confiança alheia. Em patamar mais transcendente, o patriotismo vai fortalecer a nação.
Ao longo dos milênios e à custa de ensaio e erro, os povos consolidaram os referenciais que garantem equilíbrio e harmonia, favorecendo o progresso geral. Esses valores tornaram-se indicadores civilizatórios. Para isso contribuíram, também, ensinamentos religiosos e os sistemas filosóficos clássicos.
As sociedades ditas conservadoras são as que adotam os referenciais consagrados pela tradição, por reconhecer-lhes a importância para o próprio destino. As sociedades liberais são as que partiram para o revisionismo.
Durante e após o Iluminismo, o movimento liberal passou a questionar os referenciais sociais. No século XIX, chamado o “século das luzes”, foram demolidos os mitos medievais e, com eles, os mais caros valores transcendentes que alimentavam o idealismo humano.
No século XX, a “era da catástrofe” de Eric Hobsbawm, a tragédia circunstancial de duas guerras mundiais varreu os referenciais remanescentes. O rescaldo foi feito pelos “intelectuais de vanguarda”, impregnados de ideologias fratricidas e munidos da arma psicológica, que não fere o corpo, mas destrói a alma.
Com isso, chegamos aos dias atuais, onde o bombardeio de narrativas e a ausência de referenciais de suporte ao discernimento relegam o navegante à condição de náufrago em meio às procelas da vida. É assim que o cenário psicológico das redes sociais parece retroceder ao estágio da barbárie.
Atualmente, certos valores mais sensíveis, como pudor, dignidade, respeito, fidelidade e decência já soam como palavras gregas no vocabulário da juventude.
Uma sociedade sem referenciais é uma frota de barcos sem leme em mar encapelado, sendo impossível alcançar porto seguro. Para sobreviver, o resgate desses valores será inevitável, fustigado pela lei do progresso, que há de cobrar esforço, abnegação e perseverança dos nossos descendentes.
*General de Exército Maynard Marques de Santa Rosa é oficial reformado do Exército Brasileiro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ), tendo servido em 24 Unidades Militares do Território Nacional durante 49 anos de atividade na carreira. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89). Foi Ministro-chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), no Governo Bolsonaro (2019).
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 08/02/2023
Edição: Ana Alves Alencar
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