Por Alfredo Attié Jr.
Ao contrário da desculpa da moda (moda antiga, mesma toada) as regras não determinam os tipos de aliança a que assistimos (de um lado e de outro).
Não está escrito em nenhum lugar que para se eleger é preciso se aliar a quem já sofreu condenação, sobretudo da opinião pública.
As regras não dizem que devamos continuar a olhar para trás e fazer a política de meia pataca que vigorou do império à nova república.
Isso que dizem ser regra não passa de tradição.
Quem busca a democracia olha para a frente. A democracia é uma invenção e depende de gente corajosa, de gente virtuosa, que toma a decisão de mudar.
Não se faz democracia enganando o povo. Com o falso discurso do pragmatismo. Não se faz democracia pregando a desconfiança e praticando a esperteza (dizendo que isso nos convém, nós é que vamos enganar, agora, eles é que serão enganados…).
Não se faz democracia arrastando o passado, dando espaço à oligarquia tradicional, em troca de minuto eleitoral, em troca de derrotar o adversário apenas por derrotar. Enquanto se partidariza (tolamente) a discussão da ética, da corrupção e das alianças, a velha elite antiética, corrupta e aliancista (cinicamente) sorri.
Precisamos de gente corajosa e não dos “realistas” de plantão, dos que transformam a eleição apenas em marketing, dos que gastam fortunas “doadas” por apoiadores mais do que suspeitos, audazes que impedem o País de vencer as desigualdades de modo sustentável, de terminar as alianças por simples disputa de cargo, dizendo que é bom para o
País, que é importante ser cínico e pragmático.
Em que o discurso de hoje difere do discurso pragmático de ontem, na época em que outros estavam no poder? É o mesmo autoritarismo.
Não estava escrito em nenhum lugar que as mulheres não deveriam conquistar a igualdade. E elas a conquistaram porque foram corajosas.
Não está escrito em nenhum lugar que a população negra ou afrodescendente do Brasil, e que a população pobre não deva conquistar a igualdade. Se aguardarem a aliança dos coronéis, se aceitarem a aliança tradicional, acabam algozes de si mesmos, uns explorando aos outros, como no Império e na República.
É pra mudar ou é pra ganhar a eleição. Quanto custam de atraso e de corrupção as alianças, sobretudo os compromissos mal declarados, mal expicados e mal resolvidos?
Vamos ter de assistir a quantos julgamentos? Quantas CPI serão necessárias? Quantos escândalos “resolvidos” de modo pragmático?
Alfredo Attié, bacharel e mestre em direito, doutor em filosofia (USP), é magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP – (alfredoattie.blogspot.com.br).
Ponderação lúcida e adequada.
Muito bem exposto…