Talvez reiniciar não seja o termo mais apropriado, o sistema é totalmente novo e desconhecido. Um novo sistema que ainda estamos aprendendo a lidar, num verdadeiro mundo Beta, onde aprendemos e ajustamos conforme caminhamos.
Por Paulo Gianolla*
No artigo passado cito ‘calma deliberada’ e ‘otimismo contido’ (link do artigo), obtidos em assimilar o momento, analisar, interpretar e agir criticamente, onde o otimismo é orientado por dados concretos, o pânico não é útil, e ação rápida é agir deliberadamente em nossos propósitos.
Mas por onde começo? Bem, você reclamava da falta de tempo, agora tempo você ‘ganhou’. Comece, apenas comece!
É preciso pensar a pensar no futuro, mudar o foco apenas no imediato e aprender com tudo que estamos passando. Somos indivíduos em rede, literalmente em rede, quando você puxa um ponto, altera os outros, onde ninguém tem o comando, porém todos influenciam, e enfrentamos causas comuns, se apoiando na adversidade.
Tempos de crise em contextos históricos sempre foram momentos de pontos de ruptura e pontos de escalada, marcados pela incidência de novos modos de serviços e negócios, processos e adoção de tecnologias.
O período decorrente da Segunda Guerra Mundial reformulou a ordem social colocando em nossas vidas mais comunicação como o rádio e o telefone, e confortos até então inimagináveis como o avião, a máquina de lavar e muito mais. Igualmente o automóvel, que pouco tempo após mudar o modo de produção, em escala, atendia largamente os consumidores e alterou dramaticamente nossa sociedade.
Estamos entrando em um novo ciclo de mudanças realmente significativas no comportamento humano. As pessoas estão encontrando novas maneiras de se conectar e certamente exigirão grandes mudanças no sistema, de como trabalhamos, nos movemos, na saúde e talvez também no governo, fazendo o que parecia ser politicamente impossível se torne inevitável, com o foco específico nas necessidades não atendidas, nas dores dos usuários, e em gerar valor e relevância não para grupos ou nichos específicos, mas para a comunidade toda.
Agora entendemos o qual o significado de distância, numa era de tecnologia avançada, não existem fronteiras para se fazer parte de uma comunidade, estamos em todos os locais e muita coisa pode acontecer, a conexão nos deu onipresença e a comunidade é o mundo, chegamos enfim na aldeia global.
Yuval Noah Harari é historiador, filósofo e autor de best-sellers de Sapiens, Homo Deus e 21 lições para o século XXI, em um artigo recente enfatiza que o verdadeiro antídoto para a epidemia não é a segregação, mas a cooperação.
Oriente seu trabalho com foco no ecossistema, conectando o futuro com esse mundo emergente de mudanças e complexidade.
Tentar resolver sintomas agora não vai nos ajudar. Em tempos ‘normais’ o ideal desejado para se reinventar ou implodir seu próprio negócio seria reservar 20% de seu tempo, talentos e recursos para prospectar e testar novos cenários, processos e produtos, assim você estaria sempre no comando de uma implosão controlada, mas assim como reserva de fluxo de caixa são poucos os que aplicam o conceito , agora tem estoque muito limitado ou sequer formado. Os fatos, a realidade, forçará a mudança.
O passado irá prever o futuro: Observe o passado, analise como você se posiciona e reflita sobre a evolução do mercado, como chegou até aqui e olhe para o futuro. Winston Churchill afirmava que quanto mais você olha para trás, mais longe você vai para frente, então sem perder de vista o quadro da história, comece a pintar os novos cenários futuros, assuma mais de uma possibilidade.
Iluminando o passado, explica o presente e reimagina o(s) futuro(s).
Aplique a Lógica Serviço-Dominante (SDL: Service-Dominant Logic), por Vargo e Lusch (2004), onde tem sempre um serviço sendo realizado. Serviços são o início, o meio e o fim de toda atividade econômica. Mesmo que você pense que a sua atividade não tenha relação com serviços, sempre tem! Descubra qual é realmente sua participação nessa cadeia e trace a jornada do cliente e todos os pontos de contato com os colaboradores, se você tiver. Veja onde está atendendo e falhando. Seja sincero.
Imagine as conexões sistêmicas e mergulhe nas possibilidades que se desdobram, considere como as coisas estão conectadas, suas forças e fraquezas que as moldam e o potencial de continuar sofrendo mutações.
Abandone seus pressupostos. Questione-os.
Cuidado com a resolução de problemas baseado no processo binário, aquele de pares de opostos, se é uma coisa não é outra, e vice e versa. A complexidade é o vínculo que liga tudo. Abrace-a! Mude a perspectiva e deixe fluir adaptabilidade, flexibilidade, empatia e criatividade, habilidades que moldam o futuro emergente.
Quebre a complexidade em pedaços menores e remova a tensão, assim a incerteza passa a ser um ativo, um amigo para o planejamento tático e estratégico, acelera a improvisação – o mundo beta – e libera a criatividade, onde a incerteza já não incomoda. Testar, testar e errar rápido é mais importante que perder tempo procurando um culpado. Num universo desconhecido, o novo surge.
Torne a incerteza uma aliada, converta em valor, mas com foco no ecossistema, não apenas no seu negócio. Converse com fornecedores, clientes e até concorrentes aplicando escuta ativa, obtenha excelência na colaboração, juntos com esses atores e suas proposições de valor, você pode desenvolver nossos insights até então não vislumbrados.
Conhecimentos são conexões, reconhecimento de padrões, destes surgem as boas ideias, são recombinações de nossas vivências, informações e experiências. Aprenda coisas novas, compartilhe ideias.
Modele o cenário, vislumbrando possíveis ambientes, desfavorável, favorável e indiferente, agrupe padrões e projete suas implicações e possíveis ações. Teste dessas opções contra o pior cenário e o cenário mais provável, prevendo gatilhos para cada movimento e desenvolvendo critérios para sua escolha. Ajuste conforme novas informações enriquecerem o sistema.
Reveja quais processos, ativos, bens (produtos) ou serviços e descubra quais podem se encaixar para esses cenários, imagine produtos altamente adaptáveis e ágeis.
Evite a todo custo, impulsos de comando e controle, servirão apenas para aumentar nossa ignorância e incerteza. Derrube a rede, saia da bolha, ouça o máximo de pessoas possíveis, do ‘p’ ao ‘p’, do presidente ao porteiro, todos tem suas próprias visões, perspectivas e contribuições uma vez que se sintam motivadas e seguras para exprimi-las.
Grupos e times bem informados são muito mais poderosos que grupos ignorados e policiados, então mantenha a comunicação aberta, ágil e transparente. O vírus da desinformação tem um potencial muito contagioso, não permita sua proliferação e comunique inclusive suas incertezas ou as pessoas começam a fazer suas próprias suposições. Estabeleça um canal claro de comunicação e o sistema ganha confiança e diminui a hesitação em tomar decisões.
Reiniciando o sistema
Mentalidade negativa nunca levará a uma vida positiva, nosso cérebro na parte mais primitiva está conectado o tempo todo para identificar perigo, pronto em alerta e reação, que se não contida, obscurecesse nossos pensamentos. Seja seletivo em suas escolhas de fontes e verdadeiramente agradecido com quem te ajuda a desenvolver novas habilidade ou reinventar seu negócio.
A transição já está em curso, as condições da mudança estão todas ai, a incerteza funcionará como catalizador para a liberdade de criar.
A sobrevivência está em focar no que está emergindo e com adaptação buscar diferenciação.
Examine a resposta, explore todos os contextos, verifique a viabilidade e se agrega valor ao usuário. Teste, mostre, obtenha respostas e reavalie se existe diferenciação e relevância, a tão desejada inovação. Falhe rápido e corrija rápido!
Não se agarre numa ideia única, principalmente se for a primeira, não fique se justificando ou argumentando que isso ou aquilo será corrigido no futuro, você corre o risco de se tornar apenas um defensor cego e não ouvir os retornos de alertas, não despreze, desapegue, se desfaça das suas pressuposições.
Priorize seus colaboradores, clientes e dinheiro – nessa ordem. Mas por quê? Porque tudo ao final é sobre pessoas. Seu produto é para pessoas, para atender demandas de pessoas e é ai que elas percebem o valor, quando são atendidas em suas necessidades. Quanto aos colaboradores, são pessoas, e você vai precisar delas para refazer seu negócio. A atitude imediata de demissões pode custar muito mais caro, assim como recontratações que além de outros custos implicam em novos períodos de adaptação, eles já conhecem os clientes e seus interesses por produtos, você vai precisar contar com eles.
Assim nos tornamos mais resilientes, mais atentos naquilo que realmente tem valor e reclamaremos menos de coisas tão pequenas.
No final, é tudo sobre pessoas, sempre é!
Future-se!
*Paulo Gianolla é Designer e Consultor. Atua na implementação do Design como Estratégia e Cultura de Inovação para a Liderança Exponencial e Empreendedorismo. Pesquisador de futuros, neurociências, cognição, aprendizado e processos criativos, métodos híbridos de AI (Inteligência Artificial ou Aumentada) e implantação de IoT (Internet das Coisas).
Fonte: Futurotopia
Publicação Ambiente Legal, 08/01/2021
Edição: Ana A. Alencar
Artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista, mas servem para reflexões.