Limitação da circulação de veículos pesados ajudou a diminuir a concentração de poluentes na avenida dos Bandeirantes, uma das mais movimentadas da capital
Com uma frota de cerca de 6,5 milhões de carros e congestionamentos que se perdem no horizonte, a capital paulista é frequentemente tomada por camadas de fumaça grossas e cinzentas. Como consequência, milhares de pessoas morrem todos os anos por problemas de saúde relacionados à poluição do ar, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, o estabelecimento de políticas de transporte que limitam ou proíbem a circulação de veículos pesados em corredores viários da cidade pode ajudar a melhorar a qualidade do ar. A conclusão é de um grupo de pesquisadores coordenados pelo engenheiro Pedro José Pérez-Martínez, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André.
Em um estudo publicado em novembro na revista Journal of Environmental Management, a equipe analisou os impactos da proibição do tráfego de caminhões de grande porte movidos a diesel na avenida dos Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, entre as 7 horas (h) e as 20 h. A proibição passou a vigorar a partir de 2010. As medições dos poluentes foram feitas antes e depois da medida, entre os anos de 2008 e 2012. Os pesquisadores verificaram que após a implantação de restrições de circulação de veículos pesados na região, em 2010, a concentração de material particulado fino (MP) e óxidos de nitrogênio (NOx), que causam problemas de saúde sobretudo em crianças e idosos, diminuíram 28% e 43%, respectivamente, na região.
Com base em dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), eles aplicaram um modelo para estabelecer a correlação entre a intensidade do tráfego e a concentração de poluentes no ar, sobretudo nos horários de pico, nos períodos da manhã e da tarde. As análises foram repetidas em cinco períodos distintos, sempre nos meses de novembro.
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores alertam para a necessidade de medidas adicionais às políticas de restrição da circulação de caminhões. Com o crescimento da frota de carros e caminhões de pequeno porte, mesmo as regiões da cidade beneficiadas com a restrição de circulação de veículos pesados estarão sujeitas a um aumento da concentração de poluentes como ozônio (O3), monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC), emitidos por carros e motos, por exemplo.
“As restrições aplicadas aos caminhões na avenida dos Bandeirantes podem ter ajudado a aumentar o tráfego desses veículos em outras áreas da Região Metropolitana de São Paulo. Por isso, precisamos expandir esse tipo de estudo também para outras regiões”, explica Pérez-Martinez, da UFABC. Seja como for, ele observa, a estratégia mais adequada envolveria investir na diminuição da frota em circulação, ampliar o uso de transporte coletivo, buscar combustíveis mais limpos e estimular o desenvolvimento de veículos elétricos ou híbridos.
Projeto
Narrowing the uncertainties on aerosol and climate changes in São Paulo State: NUANCE-SPS (nº 08/58104-8); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Maria de Fátima Andrade (IAG-USP); Investimento R$ 2.158.566,80 (FAPESP)
Artigo científico
PÉREZ-MARTINEZ, P. J., ANDRADE, M. F. & MIRANDA, R. M. Heavy truck restrictions and air quality implications in São Paulo, Brazil. Journal of Environmental Management. v. 202, p. 55-68, nov. 2017.
Fonte: Revista Fapesp