Cinco meses após o término dos Jogos o Parque Olímpico está abandonado, com sujeira acumulada e o Parque Radical sem previsão de abertura
Da redação*
A estrutura construída para sediar as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, foi visitada por uma equipe de jornalismo do Globo Esporte, entre o final de março e início de abril de 2017.
O Portal Ambiente Legal reproduz parte da reportagem da TV Globo, como um atestado da diferença entre o discurso e a realidade…
Uma visita reveladora
O Parque Olímpico carioca, no início de abril de 2017, recebe o evento “Gigantes da Praia”, desafio de vôlei de praia, no Centro Olímpico de Tênis. Do lado de fora, no entanto, observam-se gigantes de entulho e lixo acumulados.
Erguido a um custo inicial de R$ 2,34 bilhões (R$ 1,67 bilhão de parceria público-privada e R$ 666,3 milhões do governo federal), o Parque Olímpico seria entregue à população como um logradouro público – sediaria atividades permanentes. No entanto, hoje, abre para a população apenas nos fins de semana.
Inaugurada no último dia 21 de janeiro pelo prefeito Marcelo Crivella, a área de livre circulação – chamada Via Olímpica, tornou-se uma opção de lazer para os cariocas. compreendida num grande espaço livre entre as arenas. O legado do Parque, porém, para por aí. Chamadas de “instalações permanentes”, as Arenas Cariocas 1, 2 e 3 estão fechadas desde o fim da Rio 2016.
As arenas deveriam servir como centros de treinamento e escola. No entanto, estão fechadas sem previsão para abrir. O Velódromo, que deveria receber projetos sociais voltados para o esporte, também está fechado.
A Arena do Futuro será completamente desmontada para dar origem a quatro escolas públicas. O prazo é o segundo trimestre deste ano – no entanto, a estrutura está praticamente intacta.
Erguido a um custo de R$ 225,3 milhões, o Estádio Aquático está em processo de desmontagem. O prazo é até março, mas, ao menos externamente, o local continua com a sua aparência original, embora o fluxo de operários seja grande.
O entorno do Parque Olímpico apresenta diversos problemas. Bueiros destampados são uma realidade nas vias que contornam a área. Boa parte do material utilizado na Rio 2016 como placas de sinalização e cones estão abandonados e se deteriorando. Poças de água parada – possíveis focos de mosquito Aedes Aegypti – também fazem parte do cenário, tanto interno quanto externo.
Falam os órgãos públicos
Após o cancelamento da licitação do Parque Olímpico, o Ministério do Esporte assumiu a gestão das arenas no fim de dezembro prometendo dar utilidade aos equipamentos. Segundo o órgão, uma equipe de transição começou a trabalhar no local apenas no último dia 23 de janeiro. O escritório funciona dentro do Velódromo e tem como finalidade executar os projetos prometidos para as Arenas Cariocas 1 e 2, para o Estádio Olímpico de Tênis e para o próprio Velódromo. O Ministério esclareceu que não tem qualquer responsabilidade sobre as áreas externas, às arenas, muito menos com a desmontagem do Estádio Aquático e da Arena do Futuro – atribuição do estado e prefeitura. A pasta informou também que fará uma licitação para manutenção e gestão das quatro instalações sob sua responsabilidade.
Prefeitura e Concessionária Rio Mais manifestaram-se em conjunto através da Subsecretaria de Projetos Estratégicos e Cdurp-Porto Maravilha do Rio. Os dois órgãos lembraram que o “Parque Olímpico está em processo de adaptação, desmobilização e desmontagem, portanto o cenário de obra em alguns trechos é inevitável”. A nota ressaltou também que a Rio Mais é quem faz a manutenção das áreas públicas de uso comum do Parque Olímpico e que a Comlurb “reforçará o trabalho no local para agilizar a retirada de materiais inutilizáveis”.
Do outro lado da cidade…
Do outro lado da cidade do Rio, construído dentro de uma área militar, o Estádio de Deodoro já foi completamente desmontado. Outras instalações como Centro de Tiro seguirão como legado para futuras competições de civis e militares. Palco do basquete feminino e do pentatlo moderno da Olimpíada, a Arena da Juventude está fechada. O local será usado como uma das bases do Centro Olímpico de Treinamento, ainda não lançado.
Na parte Norte do Complexo de Deodoro, o Parque Radical está fechado desde o último dia 7 de dezembro. O local, que abrigou o Estádio Olímpico de Canoagem, o Centro Olímpico de BMX e o Parque Olímpico de Mountain Bike, funcionava como parque público para a população desde o fim da Rio 2016. O motivo alegado pela prefeitura para o fechamento foi a troca de governo. A empresa que geria o equipamento teve o seu contrato finalizado e “hoje o Parque Radical não oferece as condições necessárias de segurança para que seja reaberto”. Segundo a prefeitura, a Casa Civil devolveu a administração do Parque esta semana, e existe uma possibilidade de o equipamento abrir somente aos domingos, “até que se possa discutir o melhor método de administração”.
O fechamento do Parque Radical desagradou bastante a população carioca, principalmente os moradores de Ricardo de Albuquerque, bairro vizinho à principal entrada do equipamento.
Sobrou funcionando o Campo de Golfe
Um dos poucos legados olímpicos que realmente está funcionando é o Campo de Golfe. Alvo de protestos durante a sua construção por ter sido erguido em uma área ambiental na Barra da Tijuca, o local está aberto diariamente podendo ser utilizado por qualquer pessoa.
O campo funciona num sistema de aluguel com o praticante trazendo o seu próprio equipamento. Durante a semana, o preço de uma partida completa (18 buracos) sai a R$ 250. Nos finais de semana, o valor sobe para R$ 280.
Apesar de estar funcionando normalmente, o Campo Olímpico de Golfe enfrenta problemas judiciais. A Progolf Brasil cobra da Confederação Brasileira de Golfe (CBG) uma dívida de R$ 1,125 milhão. A empresa era responsável pela infraestrutura do espaço de 389 mil metros quadrados – o equivalente a 43 gramados do Maracanã.