Por Antônio Carlos Lago
Parece que agora será mais difícil entender porque em 92 os problemas vistos como ambientais são conceituados hoje como ações não implementadas de desenvolvimento sustentável. Na prática, vem acontecendo muitas promessas, acordos, reuniões, decisões, deslocamentos para inúmeros eventos e debates em alguns segmentos, mas, de fato, pouca coisa de concreto vem ocupando espaços positivos na mídia.
Tenho acompanhado o processo e o que fica claro é a vontade dos organizadores de produzirem mais resultados do que as últimas conferências. O que se quer hoje é resgatar a mobilização da sociedade e da organização da Rio 92, que conseguiu uma forte reunião política e possibilitou a adoção de importantes acordos multilaterais na área ambiental e do desenvolvimento sustentável.
No entanto, alguns depoimentos de dirigentes tentam chamar a atenção do mundo para o que foi planejado, visando cumprir uma grande agenda ambiental no Brasil, com a organização da Rio+20. Para mim, é visível que o fato que está em jogo é a adoção de modelos de desenvolvimento e isto vem sendo discutidos nos últimos 20 anos e o resultados já conhecemos. O que nunca faltou foram ideias, proponentes, atores e governanças capazes de acabar com o engarrafamento de tantas propostas.
A ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira afirmou que “a Rio+20 não apresentará novos compromissos, mas será importante por permitir a criação de medidas que deem condições de se implementar o conceito de desenvolvimento sustentável”.
Já o Subsecretário-Geral para Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas e Secretário-Geral da Rio+20, Sha Zukang, declarou que “agora é a hora para uma discussão profunda sobre como se pode melhorar o apoio ao crescimento verde e ao desenvolvimento sustentável”.
Outra declaração que me chamou atenção foi a do Ministro das Relações Exteriores, Antônio de Aguiar Patriota. Para ele, “a Conferência pode ser vista como um chamado à responsabilidade coletiva diante dos desafios impostos à comunidade internacional nas esferas ambiental, econômica e social”. O ministro montou uma mega-estrutura para coordenar a organização da Rio+20 e espera progressos e resultados da reunião.
Estas declarações apontam resultados, preocupações e sinalizam para o mesmo gargalo das propostas surgidas nos últimos 20 anos. O sonho continua e o que espero é acordar numa outra realidade e não em mais um pesadelo como vem sendo avaliado por alguns segmentos do terceiro setor e pela própria mídia nacional e internacional, que vem cobrindo a real expectativa dos países que já confirmaram presença.
São avaliações que circulam pela falta de visibilidade, de credibilidade, da mobilização da sociedade e da efetiva participação do corpo técnico ambiental dos governos que nem sempre conseguem espaços para colocarem em prática os seus conhecimentos, visando garantir a qualidade de vida da sociedade e um meio ambiente mais justo e equilibrado.
As propostas que serão novamente debatidas e sugeridas durante os preparativos da Rio+20 tem seus objetivos e interesses e a principal finalidade é criar estrutura institucional e condições para implementar o desenvolvimento sustentável baseado no tripé da Conferência, que são as questões sociais, econômicas e ambientais. O sonho é conseguir este resultado de equilíbrio sem tropeçar nas decisões políticas de cada nação. A realidade é colocar em prática o que for acordado entre as lideranças. Se mais uma vez ficarmos apenas no discurso das promessas, o pesadelo vai continuar por mais 20 anos.
Só nos resta ter esperança e acreditar no esforço e mobilização da sociedade para pressionar cada vez mais os dirigentes e governantes e, assim, quem sabe, garantir decisões e resultados capazes de mudar a imagem de incertezas que a Conferência tem demonstrado.