Brasil não está pronto para enfrentar riscos ambientais
Por Rosangela Capozoli – Valor *
Entre os 29 riscos globais identificados pelo Global Risks, divulgados pelo Banco Mundial em sua 11 edição, de 2016, o mais temido e preocupante para o planeta é a questão ambiental. Depois do fracasso em mitigar os impactos das alterações climáticas nos últimos cinco anos, os danos ao meio ambiente aparecem no topo da lista, deixando para trás o risco de armas com poder de destruição em massa e a crise hídrica. Quando a lente se volta para o Brasil, a escassez de energia, a falta de água, de saneamento básico e de planejamento urbano estão por trás de riscos que vão de desmoronamentos em áreas urbanas, alagamentos até epidemias como as de dengue e zica vírus.
No caso da água, o fato alarmante não é propriamente a falta, mas as distâncias até as cidades, provocando descompasso que deixa grandes centros urbanos e regiões inteiras do Nordeste vulneráveis à seca.
Outro fator de risco citado pelos especialistas é a morosidade na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Todos esses fatores, afirmam, impactam diretamente na economia do país. Falhas na gestão governamental e falta de recursos financeiros são fatores citados para ilustrar a gravidade do cenário. Em decorrência do aumento de possíveis danos, o mercado de seguro de riscos ambientais no Brasil cresce na casa dos dois dígitos por ano.
“O risco sempre existe, mas é possível reduzir a probabilidade e diminuir a severidade do impacto. O Brasil ainda está distante disso”, diz Vinícius Ambrogi, analista de riscos da EBP/Geoklock. A companhia, que pertence ao grupo suíço Ernst Basler Partner, é conhecida na Suíça e Europa por seu trabalho na área de meio ambiente e sustentabilidade. “Não temos uma avaliação criteriosa e crítica no Brasil de como esses riscos se inter-relacionam e atingem a economia, mas é certo que afetam e muito”, diz.
Segundo Ambrogi, que trabalha no escritório da Suíça, há falta de integração de informações e de conhecimento por parte dos órgãos brasileiros. “Construir um banco de dados confiável com informações de boa qualidade é um grande desafio para o país”, resume. Países desenvolvidos investem na prevenção e redução de impactos com olhos no longo prazo. A Suíça, por exemplo, lista 33 possíveis riscos, e o grande benefício, na opinião do analista, é prever essas catástrofes e analisar até que ponto são potenciais riscos ou uma ameaça real.
Para Antonio Fernando Pinheiro Pedro, consultor ambiental e advogado da Pinheiro Pedro Advogados, o saneamento básico é o maior risco para o Brasil, mais grave ainda que o desmatamento. “Estamos regredindo na questão ambiental. Se existe hoje um agente poluidor no Brasil é a burocracia”, afirma. “Seis anos após a promulgação da PNRS nós ainda não conseguimos tirar a legislação do papel”, afirma o advogado, que também é membro do “Green Economy Task Force” da Câmara de Comércio Internacional.
Ambrogi concorda que existe má gestão nos projetos voltados para prevenção e redução de riscos como a escassez da água. “A questão hídrica é um risco iminente. Já passamos por isso, convivemos com isso, e nada tem sido feito para se resolver o problema”, ressalta. Outro fator de grande risco, acrescenta, e que persiste no país, é a escassez de energia elétrica. “Só não estamos vivendo uma crise energética maior por conta da crise econômica. A energia ainda é uma grande ameaça”, afirma.
O crescente mercado de seguros voltado para perdas provocadas por alterações climáticas sinaliza o aumento de riscos ambientais. Já se percebe uma expansão do leque de produtos por parte de seguradoras que atuam na área de riscos ambientais. “Está disponível no mercado o que chamamos de seguros paramétricos. São seguros nos quais se definem parâmetros de cobertura por conta dos problemas climáticos. O rural é um deles”, conta Moacir Filho, superintendente de riscos patrimoniais e financeiros da TRR Securitas.
Outro produto que está sendo desenhado pela companhia e que deve ser lançado no segundo semestre são apólices de seguros destinados aos parques eólicos. Quando um parque eólico é dimensionado, explica, espera-se que tenha o volume de vento necessário para gerar energia esperada. Caso contrário, o seguro garante.
“O seguro rural está no segundo ano de vida e soma 14 clientes. Até o final de 2016 deverá dobrar”, prevê. Para Clemens Freitag, diretor de infraestrutura e engenharia da Aon — especializada em gestão de riscos e corretagem de seguro — o mercado de seguro ambiental deve movimentar pouco mais de R$ 40 milhões até o final de 2016.
Fonte: Rosangela Capozoli | Valor, São Paulo, 18/02/2016 às 05h00