Oceanógrafa avalia vulnerabilidade costeira em Santa Catarina com coorientação no IPT
Da redação
Ressacas intensas estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil. As fortes ondas que atingiram as cidades de Florianópolis, Balneário Camboriú e Itajaí no dia 15 de setembro e, no último fim de semana de outubro, os municípios da Baixada Santista e também o Rio de Janeiro, são exemplos de aumento da atividade marítima costeira que causaram problemas principalmente para a circulação de pessoas e veículos. Apesar da ausência de danos às edificações situadas à beira-mar, que se concentraram em muretas e nos calçadões, a possibilidade de eventuais danos não pode ser descartada no atual cenário de aumento de eventos extremos.
Para municiar os responsáveis pelas políticas públicas municipais e estaduais com informações que auxiliem a prevenir ou minimizar a ocorrência de desastres naturais, a oceanógrafa Mirela Barros Serafim está estudando a vulnerabilidade costeira a eventos extremos no estado de Santa Catarina.
Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mirela havia se dedicado na graduação à avaliação da vulnerabilidade costeira por meio de um índice multicritério atrelado a técnicas de análise espacial (também com foco no estado) e agora se aprofunda no mesmo tema no mestrado dentro do programa de Oceanografia Geológica da Universidade de São Paulo (USP) – a orientação é do professor Eduardo Siegle, e a coorientação do professor Jarbas Bonetti Filho, da UFSC, e da pesquisadora Alessandra Cristina Corsi, do Centro de Tecnologias Geoambientais do IPT, dentro do Programa Novos Talentos.
Para o estudo feito na graduação, explica Mirela, o cálculo do índice de vulnerabilidade costeira a ondas e marés extremas se baseou em algumas variáveis que não foram mensuradas por ela na época – por exemplo, as derivadas de modelagem numérica de processos costeiros – e a saída foi lançar mão de informações coletadas de estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
“Para o mestrado, eu considerei essencial estudar mais detalhadamente os processos hidrodinâmicos capazes de gerar impactos na costa por meio de uma modelagem numérica integrada,com base em dados medidos de maré e em análise de ondas de maior ocorrência no litoral do estado, assim como aquelas mais relacionadas a eventos extremos”, explica ela.
A modelagem dos processos costeiros, em conjunto com a delimitação da área construída sobre a orla a partir de imagens aéreas, irá permitir um maior entendimento da exposição da população residente nas proximidades da linha da costa. “Para isso, é preciso avaliar uma série de pontos para saber o que será incorporado ao índice de vulnerabilidade e qual peso deve ser dado a cada indicador – por exemplo, deve-se pensar sobre a influência das ondas de maior frequência de ocorrência, que sempre se repetem e provocam danos de menores magnitudes, ou aquelas relacionadas a eventos extremos, menos recorrentes, mas que podem estar associadas às mudanças mais bruscas na costa”, afirma Mirela. Outras variáveis físicas, como elevações dos terrenos, largura da faixa de areia e distância entre as ocupações e o mar, são também consideradas no índice.
Além das variáveis físicas, Mirela segue incorporando ao estudo uma série de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relacionadas a fatores socioeconômicos que havia sido empregada em seu trabalho de graduação, como o número de residentes, a renda e a quantidade de casas de uso ocasional – dessa forma, será possível avaliar a capacidade adaptativa dos setores costeiros. A combinação entre os dados socioeconômicos e as variáveis físicas selecionadas fornecerá a vulnerabilidade, ou seja, o quanto cada setor consegue se antecipar, resistir e se recuperar de um perigo costeiro, no caso as ondas e as marés.
“Alguns setores podem ser suscetíveis e não serem vulneráveis porque a capacidade adaptativa da população é muito alta: elas têm uma renda alta e conseguem reverter uma situação de dano rapidamente.
Os primeiros dados levantados apontaram que existem setores suscetíveis, mas não vulneráveis porque não existem ocupações neles”, afirma Mirela. As grandes ocupações no estado se concentram no litoral norte, enquanto na parte sul são esparsas. “É bom ainda lembrar que o projeto considera uma faixa de 67 metros da linha de costa”, enfatiza ela, lembrando que esta distância é resultante de outro estudo no litoral catarinense que avaliou a área em perigo considerando a subida do nível de mar e o alcance das ondas, entre outros.
Com as previsões de aumento do nível dos oceanos, a possibilidade de ocorrência de eventos extremos para os próximos anos pode seguir o mesmo ritmo: segundo projeções feitas em 2013 por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (mais conhecido pelo acrônimo IPCC pela denominação em inglês Intergovernmental Panel on Climate Change), a elevação da temperatura do planeta em até 4,8ºC neste século pode causar uma subida de até 82 centímetros no nível do mar. “Com este cenário, é provável o crescimento na ocorrência de danos e prejuízos e um maior número de populações expostas a perigos”, afirma Alesssandra.
O estudo de Mirela é feito em escala regional.
“O trabalho irá determinar as regiões mais vulneráveis em Santa Catarina, o que servirá para o planejamento estadual da ocupação do litoral. Localmente, estudos específicos devem ser feitos para a implantação de intervenções”, completa Alessandra.
Para a pesquisadora do IPT, o grande benefício do programa para o Instituto é permitir a participação em novas linhas de pesquisas, nesse caso particularmente em uma área na qual o Instituto tem um gap de conhecimento: “Por meio da interação do orientador com o aluno, ambos saem ganhando porque haverá uma transferência de conhecimento entre pesquisadores de diferentes instituições”, finaliza ela. “Embora a minha área de estudo seja diferente daquelas analisadas usualmente pelo IPT, que se concentra mais na parte continental, as metodologias de avaliação são bem parecidas”, explica Mirela que, para isso, conta com o conhecimento de Alessandra em Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para o processamento de dados georreferenciados.
Fonte: IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas