Por conta da tocha olímpica, apagaram a chama de um dos mais belos animais brasileiros
Por Ana Alencar e Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Símbolo da fauna brasileira em situação gravíssima de extinção, a onça Juma, um dos poucos remanescentes da espécie, foi abatida no grande circo olímpico armado para demonstrar ao mundo o quanto e como o Brasil atua na preservação das nossas espécies animais.
Escolhida para ser fotografada junto à tocha olímpica, sedada e acorrentada, Juma, como todo animal silvestre diante de tantas pessoas, agiu como tal, reagiu a todo aquele alvoroço, atacou o militar que a conduzia e foi morta a tiros de pistola.
Mais uma morte absurda, diante de tantas outras, criminosas, que temos presenciado nessa inglória corrida olímpica.
Ciclovias que caem matando pessoas, destruídas pela previsível ressaca do mar. Lixo e peixes mortos nas áreas de competição, esgoto sendo despejado em praias e mar aberto, usinas de tratamento de esgotos funcionando pela metade, resgate de preso com tiroteio no hospital de referência para o atendimento aos jogos… e outros tantos atos criminosos de desrespeito à natureza, à população brasileira, aos turistas e aos desportistas de todo o mundo.
Uma olimpíada, que deveria elevar o nome do Brasil no cenário esportivo internacional, é hoje a vitrine de nossa patética incompetência, de nossa vergonhosa corrupção, da farsa em que todos vivemos, do país do faz de conta afundado na criminalidade e esmagado pela mais nababesca e descompromissada burocracia do planeta. Da geração de dirigentes não dão a mínima para o contribuinte que lhes paga o salário, ou mesmo para o esporte…
A pobre Juma morreu por ser o que é. Por ter sido usada fora de seu meio de convivência, por pessoas irresponsáveis e imprevidentes. Qualquer amador da esquina imaginaria o que ocorreria quando alguém com uma tocha se aproximasse de um felino silvestre…
O irônico é que a Onça foi criada em cativeiro “como medida de preservação” e, na pequena oportunidade que teve, fugiu e atacou os soldados que a tratavam como mascote…
O Exército Brasileiro resgata dezenas de onças, anualmente, contribuindo para a preservação da espécie. No caso presente, porém, incorreu no equívoco de levar ao evento um animal que obviamente não estava preparado para o stress que sofreu.
Juma morreu por estar onde não deveria estar. Os cidadãos que morreram e mortos dividiram, estendidos na areia, o espaço da praia com peladeiros em pleno bate-bola, também não deveriam estar onde estavam, durante a ressaca – confiaram em uma obra de engenharia nacional…
Quantos mais serão abatidos, até e durante as Olimpíadas… porque não deveriam estar onde estarão?
Esse será o legado da Rio 2016?
Ana Alencar, poeta e pedagoga, é professora da rede municipal de ensino básico de São Paulo, colaboradora do Portal Ambiente Legal
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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