Abertura do evento reúne empresários e autoridades
Por Vitor Lillo
Para quem compareceu à abertura da Feira RWM Brasil, ocorrida na manhã desta terça-feira (01/10), no Transamerica Expo Center, em São Paulo, está claro que o grande embate ambiental não é mais entre desenvolvimento econômico e meio ambiente, mas entre o tamanho e o tempo disponíveis para gerir o enorme desafio dos resíduos sólidos.
Ainda mais quando a” frente de batalha” é o Brasil, quinto maior gerador de resíduos sólidos do mundo, com 64 milhões de toneladas de resíduos geradas em 2012, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), uma das realizadoras do evento.
De acordo com o estudo, 24 milhões de toneladas de lixo são enviados para aterros, quantidade suficiente para encher 168 estádios do Maracanã. E, falando na Copa do Mundo, 2014 é o prazo limite imposto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada em 2010, para que todos os 5600 municípios deem destinação adequada ao lixo, meta que está longe de ser cumprida.
“Me parece que não chegam a 700 os municípios que fizeram um plano de gestão de resíduos”, afirma o deputado federal José Sarney Filho. “[Falta de] vontade política; os municípios não têm estrutura; no entanto a responsabilidade maior é do governo federal, que deveria estar mais atento”, completa o ex-ministro do meio ambiente entre 1999 e 2002.
Enquanto isso, estados e municípios correm atrás da bola – ou melhor, do tempo – para cumprir as metas, embora se questione o prazo estipulado pela PNRS. Existe até uma corrente que defende a ampliação do prazo para 2016, pois somente em 2012 foi aberto o os municípios começaram a enviar seus planos de manejo para obterem verbas federais.
“Acontece que essa questão da destinação adequada de resíduos já é uma exigência desde 1981, quando entrou em vigor a lei federal que proíbe qualquer forma de poluição, mas sempre se fez vista grossa”, analisou Carlos Silva Filho, diretor executivo da ABRELPE, durante coletiva de imprensa.
A capital paulista parece que não vai esperar pelo soar do alarme, pelo menos é o que indicou o entusiasmado discurso de Simão Pedro Chiovetti, Secretário Municipal de Serviços, que representou o prefeito Fernando Haddad na sessão de abertura da feira “São Paulo, recicla hoje 1,6% das 18 mil toneladas de resíduos que produz ao dia. Nossa meta é chegar a até 10%”.
O sucesso desse plano depende, em parte, dos esforços do governo estadual, que já investiu 60 milhões de reais na capacitação dos municípios paulistas à PNRS. “Já temos um projeto para construir em Barueri [cidade da Região Metropolitana de São Paulo] uma planta de geração de energia a partir do lixo”, declarou Bruno Covas, secretário estadual de meio ambiente.
Toda a pompa do anúncio de Covas não entusiasmou Carlos Silva, que se mostrou cético quanto a possibilidade dessas plantas darem conta do enorme volume de resíduos gerado na Região Metropolitana. “Não existe planta no mundo que dê conta [do volume de lixo]”, enfatizou.
Oportunidades
Mas os problemas também podem render boas oportunidade. Aliás, esse foi um pensamento muito presente nos discursos de abertura. É com esse espírito que empresários e autoridades do Reino Unido, onde a RWM é realizada há mais de 40 anos, desembarcaram na versão brasileira do evento que termina nesta quarta (02/10).
“Nosso país reutiliza metade dos resíduos [que gera]. Estamos aqui para ajudar”, afirmou Richard Benyon, ministro do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido. O país colabora na montagem de planos de manejo de resíduos sólidos para as cidades de Recife e Rio de Janeiro que, além da Copa receberá os Jogos Olímpicos de 2016.
O desafio da capital fluminense é alcançar o mesmo sucesso da antecessora, Londres. “Nas Olimpíadas, 100% dos resíduos foram desviados para reciclagem. E isso também incentivou a reciclagem por parte das famílias”, relatou o secretário que trouxe consigo o diretor de sustentabilidade do evento, Phil Cumming, para falar sobre a estratégia adotada para a gestão de resíduos.
Mas indo além da troca de conhecimento, a Feira RWM Brasil também quer incentivar os negócios. As mais importantes empresas do setor de resíduos sólidos do Brasil, Europa, Ásia e América do Norte ocuparam os 4,5 mil m² da feira com seus stands e esperam gerar 1 bilhão de reais em volume de negócios durante os dois dias de evento. Grandes desafios, grandes oportunidades.