Metrópole mais populosa do país pretende ser neutra em carbono até 2050
Por Nando Costa*
O poder público do principal centro financeiro do país lançou um plano climático para descarbonizar a economia local. O objetivo é zerar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) da metrópole até 2050. A meta inicial é reduzir em pelo menos 50% as emissões de GEE até 2030, começando com a mudança parcial da frota de ônibus por veículos elétricos, segundo o secretário de Mudanças Climáticas do município de São Paulo, Antonio Fernando Pinheiro Pedro.
Durante fórum promovido pelo Chapter em maio na capital paulista, pela seção brasileira da Associação Americana de Engenheiro de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (ASHRAE), o advogado lembrou que o plano do governo municipal está alinhando com os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5 °C neste século. Atualmente, as cidades ocupam apenas 3% do planeta, mas representam entre 60% e 80% do consumo de energia e 75% das emissões de dióxido de carbono (CO₂) – e se expandem num ritmo impressionante. Para o secretário, São Paulo vai aproveitar esse cenário de oportunidades imposto pelo aquecimento global e se tornar mais segura e sustentável, com a construção de processos eficientes de preparação e prevenção às mudanças climáticas, o que deve acelerar a necessidade de inovação em eficiência urbana e o desenvolvimento de edifícios neutros em carbono.
Após a palestra no encontro do ASHRAE Brasil Chapter, Pinheiro Pedro detalhou ao nosso informativo alguns tópicos do ambicioso plano da cidade mais populosa do Brasil contra a crise climática global. A seguir, trechos da conversa:
ASHRAE BRASIL CHAPTER (ABC): Do que se trata o plano climático de São Paulo e quais são seus principais objetivos?
ANTÔNIO FERNANDO PINHEIRO PEDRO (AFPP): O plano climático de São Paulo foi construído pra adequar a cidade aos compromissos de redução das emissões dos GEE. Esses compromissos estão adequados, ou são relacionados, aos objetivos de redução de emissões nacionalmente admitidos, os famosos NDCs. Para a cidade de São Paulo, que assumiu o compromisso de reduzir os GEE e zerar as emissões até 2050, era necessário ter um plano de ação. Nosso plano climático tem 60 objetivos, 43 tarefas que englobam esses objetivos e a mobilização de pelo menos 18 secretarias municipais para a consecução desses objetivos. Compete à nossa secretaria de Mudanças Climáticas acompanhar e mensurar o alcance e o cumprimento desses objetivos por parte das secretarias afins. Compete à nossa secretaria de Mudanças Climáticas acompanhar e mensurar o alcance e o cumprimento desses objetivos por parte das secretarias afins.
(ABC): Qual o volume atual de emissões de carbono da metrópole paulistana?
(AFPP): Nós temos um inventário – agora o número, se eu falar algum, estarei mentindo, vou ‘chutar’ –, mas as emissões foram aferidas em 2010, 2015 e 2017. Nós agora estamos entregando o inventário de emissões relativo aos anos de 2018 e 2019. Portanto, há um atraso muito grande nos inventários da forma como eles são feitos na cidade. O que eu pretendo, a partir do ano que vem, é obter, junto à Cetesb [agência ambiental do governo do Estado], um padrão adequado a todo o estado e para que a prefeitura possa se adequar a esse padrão para fazer o seu relatório de emissões.
(ABC): E como a cidade de São Paulo vem se preparando para a era das cidades inteligentes?
(AFPP): Estamos partindo de vários pontos dentro do próprio município. O prefeito está engajado nisso, várias secretarias municipais estão engajadas nesse objetivo e o que a gente fala sobre smart city, de certa maneira, nós praticamos em grande parte. especial, por exemplo, São Paulo já utiliza um conceito de smart city, que é o processo decisório eletrônico. Todos os processos decisórios na prefeitura são eletrônicos, isto é, não há papel, e as decisões também são publicadas eletronicamente. Então, esse é um dos pontos fundamentais, quando falamos em smart city, que é o uso da cibernética para a melhoria das comunicações.
E a transparência também se faz da mesma forma, ou seja, no ciberespaço nós temos um conjunto de informações que estão sendo produzidas e retransmitidas para a população pela administração pública. O que nos falta agora? Maiores centros de controle sobre as demais ações que dizem respeito à administração pública. No caso, por exemplo, das mudanças climáticas, nós contamos com um centro de gerenciamento de emergência já tecnologicamente formatado com radares, satélites e sistema de comunicação eletrônica. Temos um centro de controle operacional que também já trabalha com isso nesse sistema. E temos um centro de controle integrado com o estado, para Defesa Civil, que também já trabalha eletronicamente. São Paulo, do ponto de vista de dinâmica de cidade inteligente, já está bastante avançada, ao contrário do que muitos imaginam. Precisamos agora avançar mesmo na área de educação. Acho que esse é o nosso ponto mais sensível.
(ABC): Essas integrações sobre as quais o senhor se refere estão sendo capazes de prevenir desastres causados por eventos climáticos extremos, como as inundações que ocorriam até pouco tempo na região da Ceagesp e do Mercado Central?
(AFPP): Sim. Isso ocorria todo ano, mas neste último ano, não. Agora, isso se deveu à manutenção de todo um grupo de controle mobilizado por Whatsapp. Então, por exemplo, quando a gente via as previsões de chuva, ou eventos extremos de inundações, tudo isso era postado já de madrugada, como alerta para todos os decisores, de tal maneira que nós tínhamos, por exemplo, a obtenção de mapas dentro da cidade de São Paulo, estabelecendo o grau de umidade, os níveis de reservatório e rios, o volume de bombeamento das águas e o nível de precipitação prevista. Isso tudo foi monitorado e continua sendo monitorado diariamente e essas informações chegam diariamente a todas aos nossos celulares. Isso facilita muito a vida dos gestores públicos.
(ABC): E como a Secretaria de Mudanças Climáticas vem trabalhando a questão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU?
(AFPP) Nós temos uma parcela disso. Mas quem comanda hoje essa temática no município é a Secretaria de Relações Internacionais. Ela já estava com isso antes de a Secretaria de Mudanças Climáticas ser criada na atual gestão. E todas as secretarias prestam relatórios com referências ao atingimento dos ODS, e a cidade tem feito um bom trabalho nesse campo.
(ABC): E qual deve ser o papel da indústria de climatização no contexto das mudanças climáticas?
(AFPP): A descarbonização é um dos objetivos centrais da nossa secretaria. Então, nós estamos trabalhando com todos os sistemas tecnologicamente adequados, visando mensurar as emissões de GEE e criarmos mecanismos que possam estabelecer métricas para aferir sua redução. Vários desses sistemas já existem e estão sendo aplicados. Aliás, o inventário já é prova disso. E a nossa meta estratégica é reduzir em 50% nossas emissões até 2030.
(ABC): E qual será o papel das energias renováveis nesse contexto?
(AFPP): Total. A energia renovável vem em substituição à energia fóssil, que hoje é responsável pelo maior volume de emissões de GEE no planeta.
Entrevista ; Ashrae Brasil Chapter – 20 anos – Por um ambiente construído saudável e sustentável para todos
Fonte: Ashrae Brasil Chapter
Publicação Ambiente Legal, 16/07/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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