Poluição está matando os paulistanos
Por Ana Alencar e Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Nos últimos anos, nos acostumamos a ver episódios críticos de poluição do ar nas cidades asiáticas.
De fato, as megalópoles do continente asiático, em especial as chinesas, apresentam qualidade do ar cada vez mais preocupante.
Pequim, Hong Kong e a poluidíssima Linfen, estão na UTI.
Porém, no nosso continente, a cidade de São Paulo,que parecia já ter vencido esse estágio, voltou ao estado de observação.
Em que pese todo o esforço efetuado no controle da poluição atmosférica, a partir dos anos 70, a edição dos Programas de contrôle de poluição veicular, nos anos 80 e 90, os programas estruturantes de melhoria da composição dos combustíveis veiculares, substituição da matriz energética, restrição de circulação de veículos em períodos de pico, e uma profunda alteração na tecnologia dos motores e turbinas, nos anos 90 e 2000 – tudo acompanhado de normas cada vez mais restritivas, o fato é que o aquecimento ocorrido na economia brasileira, na primeira década deste século, refletiu-se na piora da qualidade atmosférica paulistana.
No início de abril (2014), um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade, apresentado em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, apontou 99 mil mortes ocasionadas por problemas relacionados á poluição do ar no Estado de São Paulo, entre os anos de 2006 e 2011. “É como se uma cidade de 100 mil pessoas tivesse sido dizimada em apenas cinco anos”, declarou a pesquisadora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag.
Os dados do levantamento “Mobilidade Urbana e Poluição do Ar: A Visão da saúde”, realizado pelo instituto em parceira com a Câmara Municipal de São Paulo, levantou registros de mais de 17 mil óbitos, no ano de 2011, em consequência de doenças provocadas pela inalação do ar poluído – cardiovasculares, pulmonares e câncer de pulmão.
“Ainda há uma forte correlação entre a incidência do câncer de mama com as partículas poluentes”, afirmou a pesquisadora.
Evangelina Vormittag declarou não ver nenhum esforço governamental para enfrentar o problema. Além da carência de legislação e fiscalização eficientes, faltam políticas públicas para redução de emissões de poluentes nas grandes metrópoles.
O prejuízo com a poluição não se traduz só em perdas humanas. O prejuízo é também econômico. Conforme o relatório apresentado, a quantidade de internações, os gastos públicos e privados para tratamento de doenças respiratórias e cardiovasculares provocadas pela poluição do ar, somaram aproximadamente, R$ 246 milhões, no período analisado, somente no estado de São Paulo.
O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, entende necessárias medidas mais efetivas a serem adotadas pelo poder público, como restringir a circulação de veículos em áreas urbanas, implantar a inspeção veicular em todas as grandes cidades brasileiras, fiscalizar as frotas mais antigas, reduzir a quantidade de enxofre na gasolina, incentivar e implantar projetos para uso de energia limpa.
Bocuhy fez duras críticas ao sistema de incentivos. O Banco Mundial, segundo ele, repassou 6,5 bilhões de dólares para projetos que se baseiam em energia suja, e apenas 3,5 bilhões para iniciativas sustentáveis. O grande fluxo de capital não privilegia a sustentabilidade”, argumentou o presidente do Proam.
O governo federal não está de todo desarmado face ao problema. O programa VIGIAR, de acordo com a coordenadora de Vigilância e Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, Daniela Buosi, atua na redução dos impactos da poluição na saúde, desenvolvendo ações para prevenir doenças nas populações expostas à contaminação por poluição atmosférica.
O programa VIGIAR possui cadastro on line, que estabelece um ranking dos municípios de alto, médio e baixo risco de poluição atmosférica. Este ranking integra o IIMR – Instrumento de Identificação de Municípios de Risco, com o objetivo de realizar intervenções específicas, de acordo com a situação nessas cidades.
A coordenadora cita, como exemplo, as queimadas no Mato Grosso. Com as intervenções do programa, ocorreu redução das despesas com internações e diminuição de óbitos no Sistema único de Saúde (SUS).
O deputado Adrian Mussi Ramos (PMDB-RJ), solicitante da audiência pública, afirmou que“o capitalismo não se preocupou com o meio ambiente, a água, o ar e, hoje, sofremos as consequências do crescimento e desenvolvimento desenfreado sem preocupação ambiental”.
China e Índia, definitivamente, são exemplos a não serem seguidos. A diminuição drástica dos níveis de emissão de poluentes, no ar das cidades brasileiras, deverá integrar a agenda governamental nos próximos anos.
São Paulo, também, apresenta péssimos exemplos, pela tibieza com que governos municipais sucessivos simplesmente se omitem de propiciar fluidez ao trânsito da cidade, optando pelo discurso demagógico e soluções cosméticas ao invés de por a mão na massa e implementar obras de engenharia de grande magnitude, par e passo com a implantação de transportes de massa eficazes e tecnologicamente factíveis. Algo que transcenda as obtusas faixas exclusivas de ônibus, do nada para lugar algum…
Fonte: http://www.nossasaopaulo.org.br/noticias/poluicao-causou-99-mil-mortes-em-cinco-anos-so-em-sp