Proibidas de andar de bicicleta, meninas afegãs encontram liberdade no skate
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Nos regimes islâmicos ortodoxos, em todo o mundo, mulheres e crianças são vítimas de toda espécie de barbárie consentida, da pedofilia mal disfarçada em preceito religioso ao feminicídio serial; do estupro, tortura e sevícias à extirpação ordenada do clitóris e lábios genitais em adolescentes (infibulação).
Submetida à opressão muçulmana, a mulher, desde pequena, tem sua vida e seus movimentos restringidos dentro da própria sociedade em que está inserida. Sob a sharia, algumas mulheres só podem sair à rua se acompanhadas por homens da família.
Em outras regiões do Islã, mulheres muito jovens, mesmo trabalhando nas ruas de suas cidades, não podem utilizar determinados meios de transportes. Até o mais cobiçado meio de transporte de qualquer criança, a bicicleta, é vedado às mulheres, crianças ou adultas.
Assim acontece no Afeganistão, onde as mulheres são proibidas de andar de bicicleta, mesmo que seja para trabalhar. Não se sabe exatamente o motivo (bicicletas não estão no Alcorão) – no entanto, desconfia-se, pode ter a ver com a posição do sentar na bicicleta… Afinal, subjetividade nessa religião é característica marcante.
No entanto, toda lei, mesmo a religiosa, tem suas brechas, por onde sempre flui a cidadania.
Uma organização não governamental, a ONG Skateistan, localizada em Cabul, Capital do Afeganistão, encontrou uma conferir mobilidade e permitir certa liberdade às meninas do país: ensiná-las a andar de skate.
O mote da ONG é capacitar crianças que trabalham na rua permitindo a elas ter maior mobilidade – um contingente impressionante. Assim, segundo dados da ONG, mais de 50% das crianças atendidas pelo programa trabalham na rua e mais de 40% destas são meninas.
Assim, através dessa prática, as meninas afegãs têm conquistado mais liberdade no seu ir e vir, estão mais envolvidas com a escola e contam com uma empolgante fonte de diversão e exercício físico.
O sucesso da iniciativa levou a ONG a extrapolar a fronteira do Afeganistão.
A ONG já desenvolve trabalhos similares no Camboja e na África do Sul – locais onde mulheres também sofrem enorme restrição de mobilidade.
O trabalho da organização chamou a atenção da fotógrafa Jessica Fulford-Dobson, que criou uma série de imagens que mostram as meninas afegãs aprendendo a usar o skateboard na sede da ONG.
Essas fotos, divulgaram, além da realidade da meninas, o impacto do skate em suas vidas.
As fotos de Jessica Fulford-Dobson impressionam pela delicadeza e sensibilidade. Mostram a força, alegria e beleza das meninas afegãs, estampadas em rostos marcados pela dureza de suas vidas restritas.
O que para nós, ocidentais, é apenas um esporte e diversão, para muitas meninas e mulheres no oriente, andar de skate tem sido um meio de empoderamento, alegria e liberdade.
Mobilidade urbana é, efetivamente, um fator de libertação social. E essa libertação começa com o meio individual de transporte.
Fotos de © Jessica Fulford-Dobson
Fonte: hypeness.com.br
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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