“Há falta de água”, foi a admissão cínica e tardia da presidente da Sabesp sobre a crise hídrica em SP
Por Edson Domingues
A crise do abastecimento de água na capital paulista chegou à Cãmara Municipal de São Paulo, que resolveu abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito – chamada “CPI da Sabesp” (empresa estatal responsável pelo abastecimento).
O depoimento da Presidente da SABESP, Dilma Pena, na manhã de quarta-feira, 7 de outubro, na CPI, deixou evidente o que todos já sabiam: há falta de água em diversos bairros da capital.
A admissão, negada até então reiteradamente, aconteceu três dias depois da reeleição de Alckmin.
Utilizando-se de discurso tecnicista, a presidente da Sabesp chegou a afirmar que a falta de água se dá em bairros onde os lotes não ultrapassam 80 metros quadrados e com 3 ou 4 pavimentos.
A presidente da companhia responsável por abastecer a população. apontou um foco de desperdício de água: a cidade irregular, que não possui cisternas para armazenamento, daí o racionamento em alguns bairros.
Para os ouvintes só faltou dizer que racionamento e falta de água é coisa de pobre.
Com uma claque formada de técnicos da Sabesp que a aplaudiam com veemência, Dilma Pena foi, no entanto, evasiva quando questionada sobre quais seriam as consequências para o abastecimento da cidade caso fosse vedada a retirada da 2ª fase do volume morto do Sistema Cantareira – proposta aventada pelo Ministério Público paulista, cujos representantes compareceram à CPI.
Aliás, o comparecimento da dirigente à CPI da Sabesp só aocorreu em razão de convocação, formal, aprovada pela CPI após convite por ela rejeitado, antes das eleições do último domingo.
Dilma Pena abusou de apresentação de quadros técnicos no “powerpoint”. quando o assunto foi investimentos na redução de perdas. Em evidente manobra para desviar o foco da inquirição dos vereadores.
Dilma Pena declarou que a redução de perdas é algo “lento, gradual e caro”.
Quando questionada sobre empresas de ex-diretores da Sabesp, contratadas para reduzir o desperdício no sistema de distribuição, a dirigente da companhia afirmou caber “aos órgãos competentes investigar”.
Dilma Pena ainda ouviu do promotor de Meio Ambiente da capital, Ismael Lutti, que a ARSESP não faz controle social da água, obrigatoriedade desta agência reguladora.
Questionada pela CPI sobre a descarga de esgoto na Guarapiranga, Dilma afirmou que o assunto foi pontual e que a represa é muito bem cuidada pela Sabesp.
O depoimento não convenceu. Prevaleceu o dissimulado discurso oficial: há mera redução de pressão nas torneiras.
Na próxima quarta feira, Dilma Pena volta para novo depoimento na CPI.
Não dirá nada. E por mais quatro anos…
Edson Domingues, 46 anos, escritor, ambientalista e autor de projetos de sustentabilidade na periferia de São Paulo. Graduado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, FESPSP. É colaborador do Portal Ambiente Legal.
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