Processo eleitoral viciado na Venezuela pereniza o desastre
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
Nicolás Maduro organizou a eleição dos seus sonhos. Foi eleito “pelos que lhe importam” contra “todos os demais” – aqueles que já excluiu do estreito horizonte de interesses bolivariano.
Explico: Maduro obteve quase 70% dos votos… de menos da metade do total dos eleitores venezuelanos.
Vale dizer: foi reeleito com 5.823.728 votos, que correspondem a 68% do total de votantes. Porém, esse total equivale a apenas 46% dos 20.527.571 de cidadãos eleitores.
Confrontados os números, a vitória de Maduro parece uma derrota acachapante.
Mas para quem não se importa minimamente com o destino da população à qual deveria servir, a equação de Maduro é simplesmente vitoriosa.
A realidade é mais miserável que os números
Dos que compareceram, a maior parte dos foi composta pelos famélicos, cujo cupom de alimentação esteve condicionado ao controle de frequência às urnas.
Outra parte dos comparecentes constituiu-se dos “fanáticos” que servem nas milícias populares – e o registro do voto constitui condição necessária para continuarem a receber uniformes, comida e, como muitos infelizmente fazem, manter o poder para achacar cidadãos indefesos nas horas vagas.
Por fim, um grupo de corajosos compreendeu que deveria ir às urnas protestar contra Maduro, votando no simulacro de oposição.
O restante dos eleitores simplesmente não se deu ao trabalho de comparecer. A grande maioria resolveu não bancar figurante no pastelão circense montado por Maduro e seus acólitos.
A oposição deu a letra da farsa. Henri Falcon, o candidato da oposição mais votado dentre os que se apresentaram ao pleito, indicou terem sido registradas irregularidades durante o processo eleitoral.
Falcon, um antigo dissidente chavista, chamou atenção para a presença de “pontos vermelhos”, postos de controle montados pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nas proximidades dos centros eleitorais.
Agências internacionais e membros da oposição também apontaram a existência destes chamados “pontos vermelhos”.
As barracas instaladas pelo partido de Maduro constituíam verdadeiro sistema de controle de currais eleitorais. O objetivo era “checar” quem estava votando. A checagem se fazia por meio da apresentação do chamado “carnê da pátria” – usado para ter acesso aos programas sociais do governo.
Ou seja, quem não votava, ficaria sem comida e assistência social.
Falcon denunciou também que vários eleitores foram coagidos a comparecer. Tratou do apelidado “voto assistido” – “outra perversidade”, segundo, Falcon, para controlar os eleitores.
Pessoas chegaram a ser arrestadas para comparecer a postos de votação que estavam sob risco de permanecerem vazios.
O boicote às urnas foi programado pela Frente Ampla Venezuela Livre, sucessora da Mesa da Unidade Democrática, que reúne a oposição firme ao regime chavista.
Os opositores que se candidataram às eleições criticaram a plataforma opositora Frente Ampla Venezuela Livre, justamente por promover a abstenção. “Enquanto mais abstenção, mais possibilidade de controle (…) por um Governo que está habituado a isso, ao engano, à manipulação, à coação, à pressão, a brincar com a nossa dignidade”, disse o candidato Falcon.
Regime autoiludido
O aparato de força do governo narcoditatorial foi significativo. Foram instaladas 34.143 mesas eleitorais em 14 mil centros de votação, garantidas por trezentos mil soldados das Forças Armadas Venezuelanas, no bojo de uma operação apelidada “Plano República”, com a participação do simulacro de Ministério Público, daquele país.
Mesmo assim, com toda a manipulação, Nicolás Maduro perdeu 1.763.851 de votos em relação à eleição anterior de 2013, quando se habilitou como sucessor de Hugo Chávez , com 7.587.579.
“O povo da Venezuela pronunciou-se e pedimos a todos e todas, nacionais e internacionais, que respeitem os resultados eleitorais e o povo da Venezuela, que decidiu e decidiu em paz”, disse Tibisay Lucena, funcionária chavista que preside o “Conselho Nacional Eleitoral” venezuelano.
As eleições presidenciais antecipadas decorreram “como sempre foi a tradição do povo da Venezuela, com grande tranquilidade e civismo”, acrescentou a socióloga.
Nicolás Maduro, reeleito para um novo mandato até 2025, agradeceu aos venezuelanos “o apoio que lhe deram através do voto” e pediu aos “empresários” (???), que trabalhem em prol do país.
“Juro-lhes que cumprirei a palavra empenhada e me dedicarei a recuperar e a reativar os motores da economia. Tenho plena consciência dos desafios que vamos enfrentar. Sou um Presidente mais preparado e vou responder à confiança que o povo me deu”, frisou o autoiludido bigodudo.
De fato, a espiral de alienação da classe dirigente venezuelana é proporcional à espoliação praticada contra as riquezas nacionais daquele país.
O populismo de Maduro começa a dispensar as manifestações de massa – talvez por não mais ter como mobilizá-las financeiramente.
De fato, já ocorrem episódios de montagem de multidões no entorno do ditador, produzidas digitalmente. Tal qual os votos que o elegeram.
Maduro ensaia aceno à multidão inexistente – engodo digital a ser preparado com técnica de cromaqui?
Repúdio Internacional
Os países livres da América Latina, apressaram-se em negar reconhecimento à farsa eleitoral do vizinho. Panamá e Chile foram os primeiros a não reconhecerem resultados.
Em declaração o governo chileno disse que “lamenta profundamente que a Venezuela, um país que durante 40 anos foi livre e próspero, tenha atualmente aprofundado a rutura da ordem democrática e constitucional”.
“A Venezuela não é uma democracia: não há liberdade de expressão, não há separação de poderes, não há o devido processo, não há respeito pelos direitos humanos e há centenas de presos políticos”, concluiu o duro documento do Chile.
O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem logo na segunda-feira, que limita a capacidade do governo venezuelano de vender bens públicos após a eleição, considerada “fraudulenta” do último domingo. Segundo informou a Casa Branca, a medida, na prática, é uma sanção contra a Venezuela.
“A eleição da Venezuela foi uma farsa, nem livre nem justa. O resultado ilegítimo desse falso processo é mais um golpe para a orgulhosa tradição democrática da Venezuela”, denunciou o vice-presidente dos EUA, Mike Pence.
“Os Estados Unidos não ficarão de braços cruzados enquanto a Venezuela desmorona e a miséria de seu valente povo continua”, prometeu.
Por sua vez, os 14 países do Grupo de Lima convocaram seus embaixadores em Caracas para consultas e concordaram em “reduzir o nível de suas relações diplomáticas com a Venezuela”, em protesto contra o polêmico processo eleitoral.
O Brasil está entre os países que não reconheceram o pleito venezuelano como legítimo, e condenaram a ditadura de Maduro.
O panorama é sombrio para um país isolado e arruinado, com uma população que suporta a falta de alimentos e remédios, um custo de vida muito elevado – um salário mínimo que compra apenas meio quilo de carne – e o êxodo de centenas de milhares de pessoas.
A Venezuela sofre a pior crise de sua história recente: o FMI calcula uma queda de 15% do PIB e uma hiperinflação de 13.800% para 2018. A produção de petróleo está no pior nível em 30 anos.
Maduro, no poder desde 2013, atribui o colapso a uma “guerra da direita” aliada com Washington.
A realidade, no entanto, é cristalina, a situação da Venezuela é fruto da desastrosa gestão bolivariana na economia.
Em direção ao narco-nazismo
É certo que Maduro não irá durar. Seu regime de destruição, no entanto, ainda tem muita carne, sangue, pele e ossos dos miseráveis venezuelanos, para queimar na sua fogueira de proselitismos esquerdizóides, que alimenta o tráfico de drogas, a corrupção estratosférica e a política de deliberada desindustrialização e entrega do país ao imperialismo do eixo Russia-China-Cuba.
Sem apoio moralmente sustentável, Maduro segue o exemplo romano da dinastia dos Severo – aumenta o soldo de sua tropa.
Porém, o ditador não pode confiar de todo no Exército. Assim, Maduro recorre aos ensinamentos de seu guru maior (e também de Hugo Chaves), Adolf Hitler: reforça também o efetivo e armamento de suas milícias paramilitares – uma espécie de “S.As.” (Tropas de Assalto nazistas).
O modelo oficial não foi o alemão. As milícias adotaram o modelo dos Comitês Cubanos de Defesa da Revolução – CDRs, que evitaram a invasão na Baía dos Porcos nos anos 60. No entanto, Fidel Castro era leitor assíduo e declarado de Mein Kampf (a obra de Hitler). Tinha, portanto, a quem imitar…
Maduro, hoje, esgota os recursos de que dispõe para comprar armas e aparelhar sua crescente milícia popular. Fornece uniforme, armas, munição, salários, alimentação e privilégios a uma massa de miseráveis que, sofrendo com a miséria, vêem na carreira paramilitar a única forma de ascensão social.
As “milícias operárias” formam um “corpo de defesa nacional”, que aterroriza a população e rivaliza com o exército venezuelano.
Criadas em 2005 por Hugo Chávez – com efetivo de 130 mil pessoas, essas milícias são formadas por todo tipo de quadros – de militantes iludidos a completos imbecis, de jovens fortes com alguma escolaridade a senhoras idosas, frágeis e analfabetas – todos armados com fuzis K-47 de última geração…
Dividem-se em milícias operárias e camponesas, como se houvesse ainda na economia venezuelana indústrias ou atividade agrícola em grande escala…
Há, no entanto, uma diferença entre a narcoditadura bolivariana e a formação cubano-nazista. Não há mobilizações eficientes ou voltadas para algum esforço nacional de reconstrução econômica – que implique em trabalho, e não existe ação de “purificação” motivada por alguma doutrina racista. Assim, os milicianos bolivarianos empregam seu aparato no achaque e na violência urbana.
Formam a vanguarda de invasões, atos de intimidação, sequestros, assassinatos e extorsões.
Triste realidade. Não há como não relacionar a impressionante criminalidade que grassa na Venezuela, com as milícias.
O efeito batráquio, imposto à cidadania desde o início da era chaves, levou a população a não perceber o que se pretendia com a repressão ao porte de armas imposto aos cidadãos de bem, no início do processo – tal qual se pretendeu e ainda se pretende fazer aqui no Brasil.
Os cidadãos desarmados só se deram conta de seu desalento quando o governo bolivariano passou a ceder armamento a miseráveis ideologicamente subalternos alinhados a ele. Foi assim que a violência urbana e rural disparou.
Quando Hugo Chávez se elegeu, em 1999, o país registrava cerca de 6.000 homicídios por ano – uma taxa de 25 por 100 mil habitantes (semelhante à do Brasil – que já é considerada elevadíssima). A partir de 2005, com o agravamento da crise econômica e dos padrões morais venezuelanos (sim, valores invertidos estimulam a criminalidade…) o índices ultrapassaram 20 mil assassinatos por ano, segundo dados da ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV).
O índice de homicídios por 100 mil habitantes triplicou, e coloca o país entre os mais violentos do mundo. Os roubos a mão armada e os sequestros-relâmpago – chamados na Venezuela de “sequestros express” – também se tornaram delitos comuns. Decididamente, não é mais um país para se visitar – a menos que seja alguma autoridade petista…
Apoiando-se nessas milícias de padrão moral duvidoso, declarou Maduro: “Ordeno avançar, o mais rápido possível, com o estabelecimento e a organização das milícias operárias bolivarianas como parte das milícias nacionais.”
O objetivo “é fortalecer a aliança operária-militar” e obter um maior respeito para a classe trabalhadora, afirmou Maduro em cerimônia de formatura na Universidade Bolivariana de Trabalhadores Jesús Rivero, em Caracas.
“Serão ainda mais respeitados se as milícias tiverem trezentos mil, um milhão, dois milhões de trabalhadores e trabalhadoras uniformizados e armados, preparados para a defensa da soberania e da revolução.” Como não há alternativa de emprego na Venezuela bolivariana fora do Estado, sobram a criminalidade e a atividade política orientada, paramilitar.
Foi essa massa de celerados que conduziu a patrulhou a condução dos eleitores às urnas bolivarianas, tal qual se faz com gado, nas eleições em prol de Maduro.
Dejeto bolivariano
Decididamente, a Venezuela mergulhou no transe nazifascista, orientada por imbecis e narcotraficantes. Não há eleição que possa corrigir esse rumo.
Os bolivarianos, enfim, construíram a latrina esquerdista onde afunda a dignidade do povo venezuelano. Esse fenômeno dificilmente se resolverá fisiologicamente.
Organismos populistas totalitários, como esse encabeçado por Maduro, não costumam afundar de per si. Permanecerão boiando no fluxo de barbaridades que o próprio regime produz.
Maduro é o dejeto chavista que se perpetua na latrina da ideologia populista bolivariana. Não sairá a menos que se acione uma descarga sanitária.
Só não se sabe, ainda, se o acionamento se dará por dentro ou por fora…
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*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View