O desalento acomete o Brasil… por conta da corja que dele se apoderou.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
O “triunfo” da maldade, a inversão de valores e a falta de perspectiva surgem como causas objetivas do desalento que acomete jovens e profissionais da linha de frente da sociedade brasileira.
Não é à toa que criancas e adolescentes, emocionalmente desassistidos, entregues a entes familiares disfuncionais ou imersos em bolhas relacionais sem que os pais se dêem conta do problema – ocupam o pico da atenção dos sistemas públicos de saúde, no Brasil.
No entanto, é fato que trabalhadores rurais, professores, policiais, militares e servidores da saúde, constituem também o foco de atenção para o combate ao suicídio, que parece estar se tornando epidêmico no Brasil.
Segundo a OPAS – Organização Pan Americana de Saúde, os fatores determinantes da saúde mental para transtornos mentais incluem não apenas atributos individuais – como a genética, a nutrição e infecções perinatais e doenças adquiridas durante a vida, a capacidade de administrar os pensamentos, as emoções, os comportamentos e as interações com os outros. Incluem também fatores objetivos, sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais.
O ambiente político, a economia, a proteção social, os padrões de vida (e perspectivas), as condições de trabalho e o apoio comunitário – influem decisivamente para determinadas atitudes drásticas, em especial nos que se encontram em situação psicologicamente vulnerável ou sob stress.
Não é necessário, portanto, relacionar o suicídio epidêmico com o que sentimos, constatamos e interagimos: o poluído, degradado e degradante ambiente político nacional e a decomposição do tecido social – estimulado pela ideologia desagregadora que move toda essa degradação. O silêncio, o isolamento, a falta de perspectivas, a desatenção parental, educacional e governamental, a burocracia intransponível, a perda estrutural e sistemática de oportunidades – a corrupção ostensiva e ostentada, bem como a ausência de políticas públicas consistentes, são fatores que influem decisivamente no aumento dos casos de suicídios observado no Brasil.
De fato, “o que aí está”… está matando a Nação.
Deixaremos que esse mal progrida ou… eliminamos a doença, recuperando a vida do País?
Sobre o assunto, a partir de matéria publicada recentemente no Estadão*, faço breves considerações no vídeo postado logo abaixo, cujo leitor convido a assistir:
Suicídio provocado por um Estado homicida
Um problema grave, que sempre foi tratado com discrição nos meios jornalísticos, agora assume proporções preocupantes.
O suicídio no Brasil subiu 43% no período de 2010 a 2020. Entre os adolescentes, o aumento foi de 81%. Nos casos de menores de 14 anos, houve aumento de 113% na taxa de mortalidade por suicídios. Com isso, o suicídio tornou-se a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Nesta década, a taxa de suicídios no Brasil já cresceu 7% – subindo de 5,7 para 6,1 casos para cada 100 mil habitantes – enquanto a média mundial decresceu quase 10%.
em se tornado comum a notificação escolar de alunos se automutilarem, sem que a família preste atenção – cortes produzidos na pele por quem está pedindo socorro, por estar sofrendo uma dor maior, se saber como dar conta da mesma.
Mas o fenômeno também afeta adultos.
Segundo o levantamento da SBP – Sociedade Brasileira de Psicologia, trabalhadores da agropecuária têm a maior mortalidade por suicídio no país, entre todas as categorias profissionais investigadas – algo que se explica pelo volume de stress ambiental e expectativas relacionadas à perda de perspectivas na velhice – pois há um pico de ocorrências vinculada à terceira idade.
A pesquisada SBP analisou dados de 2007 a 2015, quando foram registrados 77.373 suicídios no Brasil. No primeiro ano, a mortalidade entre os agropecuaristas foi 16,6 por 100 mil habitantes. Em 2015, esse índice saltou para 20,5, o que equivale ao dobro da média para todos os trabalhadores em geral. Os pesquisadores analisaram registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
“Nossa intenção foi verificar se houve diferenças da mortalidade por suicídio entre grupos ocupacionais, sugestivas da participação de fatores laborais na sua determinação”, explica a psicóloga e professora Vilma Santana, coordenadora do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador do ISC/UFBA, que liderou o estudo.
O estudo não avançou sobre os aspectos objetivos do ambiente institucional de crise no meio agrário, invasão de terras, autuações sistemáticas e pressão econômica sobre os pequenos agricultores. No entanto, basta olhar o noticiário nacional do período para compreender a relação. Há profundo vínculo do fenômeno, com momentos de indefinição política quanto à legislação ambiental, sendo que os anos verificados estão relacionados justamente a momentos de profunda crise e judicialização das atividades agrícolas por conta do ativismo ambientalista – provocado por indefinições políticas ocorrentes no Estado brasileiro.
O problema é mais grave entre populações indígenas – por fatores culturais e antropológicos, agravados pela absoluta incompetência demonstrada objetivamente pelas sucessivas e constantes crises e conflitos ideológicos que se abatem na política indigenista nacional.
No ambiente urbano, o isolamento social, os temores, expectativas frustradas e o stress ambiental convivem com o isolamento social e a pobreza cultural progressiva.
“Vivemos um momento bem contraditório. Nunca como agora tivemos tanto acesso à informação, mas talvez nunca tenhamos nos sentido tão sozinhos, tão reclusos, tão isolados. Parece que fomos substituindo essas relações que se dão pessoa a pessoa por aquelas medidas pelo computador” – informa a psicóloga.
Profissionais da saúde – em especial enfermeiros, professores de ensino médio, militares – especialmente policiais militares, bombeiros e policiais civis, são alvo de grande preocupação em relação às taxas de suicídio. Patente que a exposição da atividade profissional às causas e efeitos da sociopatia nacional, contribui decisivamente para o problema. Mas o que leva ao desespero é o stress suplementar, induzido pelo Estado por meio de políticas e conflitos que desprestigiam institucionalmente essas mesmas profissões – ampliando a vulnerabilidade social face à mesma sociopatia com a qual lidam.
Os industriários também são objeto de atenção – e as profundas alterações decorrentes da desindustrialização sofrida pelo país nos últimos vinte anos, somada á rápida obsolescência de várias categorias ante a automação, bem como a instabilidade introduzida nas relações trabalhistas, estressaram profundamente o setor.
A população LGBTI também é profundamente atingida – e o problema maior nesse campo é não apenas a subnotificação como a barreira informacional erigida pelos ideólogos de gênero, que procuram omitir os problemas decorrentes de comportamentos sociopatas, inadaptação do indivíduo à “nova condição”, a marginalizaçãoe a segregação familiar e social.
Já a população de rua e vitimizada, entre tantos problemas, também pela subnotificação.
A depressão, como outros transtornos mentais, é considerado por organismos de saúde como fator de risco para o suicídio. Mas não há uma relação direta de causa e efeito. Os indícios de que uma pessoa não está bem são vários e demandam atenção de quem está em volta e um canal de comunicação para oferecer ajuda a quem está em sofrimento.
Porém, há um fator gravíssimo, decorrente da hiperinformação protagonizada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação – incluso bigdata – que estimulou sobremaneira o sentimento de emulação.
Com efeito, o zelo na busca de igualar e superar positivamente paradigmas, o brio e o estímulo à rivalidade – encontram-se absolutamente descalibrados socialmente no Brasil. O cidadão liga a televisão, ouve o rádio, pesquisa no computador ou no celular e se depara, constantemente, com o triunfo da maldade, com o estímulo ao mal feito, com a ostentação de quem enriqueceu ilícitamente, com a pedagogia da derrota, a didática do rancor e o combate às simetrias – impostos pelo ambiente político degradado no país – ampliado pela ditadura cultural inoculada pela mídia mainstream.
Somada à impunidade instituída judicialmente, o cidadão hoje se depara com a judicialização do seu cotidiano, na mesma proporção. Algo que hoje atinge até mesmo o senso de humor cotidiano.
Com efeito, o ambiente de desolação, serve de estímulo à tragédia que aqui analisamos, e que se desdobra em níveis epidêmicos no País.
Hora de olharmos com um olhar muito crítico… e adotarmos providência… não para isolar o problema do suicídio dos problemas que enfrentamos em face ao estado de coisas doentio imposto pelo establishment, mas, sim, para responsabilizarmos toda essa estrutura paquidérmica que nos governa, e seus apodrecidos componentes, pelo problema que hoje afeta a Nação.
Notas:
*O Estado de São Paulo, ed. 17 de dezembro de 2023
https://portal.cfm.org.br/eventos/taxa-de-suicidio-cresce-43-em-uma-decada-no-brasil/
https://sinproeste.org.br/silencio-desalento-e-falta-de-politicas-alimentam-suicidios/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-09/brasil-registra-1000-suicidios-de-criancas-e-adolescentes-por-ano
https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é CEO da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 26/12/2023
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.