Por Danielle Denny
A maioria das empresas de pequeno porte adota algum tipo de prática sustentável: 70,2% realizam coleta seletiva, 72,4% controlam o consumo de papel, 80,6% a água, 81,7% a energia. Essa foi a constatação da pesquisa divulgada em maio passado pelo SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que entrevistou 3.912 empresários de micro e pequenos negócios em todo o Brasil.
O engajamento de toda a sociedade, principalmente das empresas, a despeito do seu tamanho, é fundamental para implementar os valores da sustentabilidade. Com a globalização, os agentes políticos nacionais perdem cada vez mais relevância, cedendo espaço para a iniciativa privada, que, por meio de sua atuação, inclusive transnacional, acaba substituindo o Estado em muitas de suas antigas atribuições.
Não basta apenas cumprir as normas e diretrizes do Global Compact, da OCDE (Organização para a cooperação e desenvolvimento econômico), da Lei Sarbanes-Oxley, ou ostentar certificações como o Global Reporting Initiative (GRI), ISO 14000, Índice Dow Jones de Sustentabilidade (IDJS) ou ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial – BOVESPA). Todos estes modelos devem ser tomados como um convite à reflexão, uma métrica para possibilitar que os resultados sejam comparados.
Eles facilitam o relacionamento das empresas com os seus públicos e, principalmente, com os negociadores das Bolsas de Valores. Mas os indicadores refletem apenas parte do cotidiano empresarial nos relatórios, não espelham perfeitamente o dia-a-dia da gestão. Além disso, os custos, literalmente milionários para adaptação, impedem que muitas corporações se submetam. Dessa forma, o foco não pode ser os prêmios e certificados, mas sim, os resultados efetivos conseguidos com a administração responsável e ética.
A propriedade tem de ser lucrativa e cumprir a sua função social, conforme previsto na Constituição brasileira (Art. 5º, XXIII). As normas e o controle estatal estão cada vez mais exigentes e rigorosos, principalmente no que tange a aspectos ambientais e trabalhistas. Assim, cumprir a função social pode ser a opção mais rentável, uma vez que significa, além de economizar em multas e condenações, deixar de perder dinheiro, implementando processos mais eficientes e econômicos que evitem desperdícios, reutilizem e deem destinação adequada aos resíduos.
Além disso, uma empresa socioambientalmente comprometida experimenta ganhos de reputação que podem ser capitalizados em outras áreas. De acordo com o escritor Mario Rosa, autor de “A Era do Escândalo”, entre outros títulos, uma empresa com boa imagem pode comprar melhor, cobrar mais, contratar os melhores funcionários, custar menos e ser mais competitiva.
Para disseminar oportunidades nesse sentido, é indispensável a inovação, e empresas de qualquer tamanho podem surgir com produtos, ideias e processos novos. Nas estruturas menores e menos burocratizadas, o ambiente é ainda mais propício para converter essas inovações em estratégia de mercado ou de competividade. Assim, para as micro e pequenas empresas essa pode ser uma excelente oportunidade de negócio.
A DryWash é um exemplo. Para economizar os 300 litros de água que se usam para lavar cada carro em um lava-rápido convencional, o dono fez experiências químicas usando a batedeira da sogra e com isso desenvolveu uma formula pioneira em todo o mundo, hoje patenteada. Além dos royalties dos produtos, a DryWash fatura com a prestação de serviços de lavagem a seco e com uma ampla rede de franquias.
Com a mudança de valores da sociedade, os consumidores passaram a valorizar os progressos sociais e ambientais do setor privado, juntamente com preço e qualidade. Assim, o comprometimento socioambiental pode agregar valor e favorecer pequenos empreendimentos, na medida em que consumidores conscientes aceitam pagar um preço maior por um produto mais ecológico e privilegiam empresas locais.
O desafio de implementar os valores de desenvolvimento sustentável é comum, tanto para os grandes como para os pequenos negócios. Lucrarão mais os que conseguirem se antecipar, aproveitando a janela de oportunidade da Economia Verde.