Experiência norte-americana indica como comunidade pode se aproximar de parques nacionais no Brasil; Sue Gardner afirma que a gestão dos parques precisa ser mais proativa
Por Maria Luiza Campos (NQM)*
A diretora do Programa de Gestão de Parques Golden Gate (EUA), Sue Gardner, esteve no Brasil e apresentou o trabalho de mais de 20 anos que desenvolve envolvendo a comunidade nas ações da unidade de conservação. Apenas em 2014, 26.500 voluntários e estagiários trabalharam 450 mil horas no Parque Golden Gate, o equivalente a 240 funcionários em período integral. Esses mesmos voluntários no mesmo período plantaram mais de 33 mil plantas nativas e coletaram mais de 29 mil guimbas de cigarro em toda a costa do parque. O Golden Gate, localizado em São Francisco, na Califórnia, é o maior parque urbano no mundo, com mais de quatro quilômetros quadrados, recebendo mais de 13 milhões de visitantes anualmente.
Sue Gardner da oitava edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC), um dos maiores eventos de conservação da América Latina. O evento é realizado em comemoração aos 25 anos da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
“Para que a conservação da natureza seja prioridade na sociedade, é preciso que ela faça parte da vida dos jovens e crianças. Por isso, sou grande defensora de integrar serviços sociais obrigatórios nos currículos escolares”, afirma. Segundo ela, quando adolescente, teve de fazer trabalho voluntário e essa experiência foi fundamental para criar e fortalecer uma relação de respeito e admiração pelo meio ambiente.
Sue Gardner ressalta também que é preciso modificar o paradigma reativo que muitos gestores de parques nacionais apresentam. “Ao invés de esperar as pessoas irem aos parques, nós agora estamos indo até as comunidades e os convidando a participar mais efetivamente. Nós nos perguntamos como podemos ser mais bem utilizados pela comunidade ao nosso redor”, explica. Ela exemplificou que os parques podem ser aliados dos professores de diversas disciplinas, como ciências e ajudá-los a enriquecer as aulas.
Além disso, a diretora comenta que é necessário pensar em questionamentos, como de que forma podem-se usar oportunidades no parque para oferecer emprego para os jovens da região, especialmente aqueles que mais precisam. “Ao invés de nos voltarmos para dentro, nós estamos sendo proativos na criação de pontes até as comunidades ao nosso redor e essa experiência pode ser replicada em qualquer área protegida no mundo”, destaca.
Outro destaque da palestra de Sue Gardner foi a abordagem de que o movimento ambiental tende a falar para as pessoas que já são convertidas, isto é, buscam o apoio daqueles que já são conectados de alguma forma e entendem as necessidades e os desafios. “Mudança mais significativa virá quando modificarmos nosso foco, educarmos melhor e engajarmos aqueles que estão desconectados com a causa, especialmente os que estão em áreas urbanas e têm o poder de votar pelas mudanças e, ao fazer isso, direcionem mais apoio e recursos para nossas áreas protegidas”.
Durante sua palestra, Sue Gardner apresentou seis elementos que ela acredita serem fundamentais para o desenvolvimento de um programa de sucesso no engajamento de jovens de uma comunidade – foco de seu trabalho nos parques Golden Gate. São eles: oferecer um senso do propósito; trabalhar em equipe; oferecer incentivo econômico (mesmo que pequeno); incluir um componente de aprendizado; integrar trabalho e diversão; e oferecer desafios físicos e mentais. Segundo ela, oferecer um senso de propósito é importante porque ele permite que os jovens vejam a importância do seu trabalho e como eles podem fazer a diferença.
Todos têm um papel a desempenhar
A diretora do programa de gestão de parques ressaltou a importância do papel que cabe a cada setor da sociedade. “No caso do governo, minha sugestão é desenvolver mais programas de educação ambiental nos sistemas escolares, começando com crianças bem novas e deixar que elas tenham essas experiências por si mesmas”. Sue destaca que as ONGs e instituições de diversos setores podem desempenhar importante função como parceiros oferecendo financiamento de programas, orientação e oportunidades de emprego para jovens.
Sobre a Fundação Grupo Boticário: a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.439 projetos de 482 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Nainternet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.
Fonte: NQM Comunicação
*Maria Luiza Campos é jornalista e assessora de comunicação da NQM Comunicação