“ELES NÃO TÊM O QUE VESTIR, MAS TÊM POR QUEM TORCER! VAMOS VESTIR O BRASIL DE VERDE E AMARELO!” DIZ CAMPANHA DE GRUPO DE SHOPPING CENTERS
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro e Ana Alencar
O uniforme unifica, harmoniza e diferencia. Torna o indivíduo parte de um todo. Ordena comportamentos e ações, pois a harmonização visual é forte indutora. Diferencia pessoas, grupos e posturas.
O uniforme constitui expressão estética do Poder. Pode ostentar, catalisar e agregar. Pode também, discriminar, estigmatizar e segregar.
Uniformizar miseráveis é ideia antiga. Hindus, radicais cristãos, comunistas e nazistas já o fizeram, com resultados funestos.
Na Venezuela, celerados “bolivarianos” criam “milícias populares”, uniformizando e armando miseráveis com roupas da cor da bandeira.
Por aqui, no Brasil, camisetas e bonés uniformizam miseráveis, identificando-os com movimentos sociais de toda ordem. Só não os enquadra no artigo de nossa Constituição que, não por acaso, VETA a formação de grupos paramilitares, apenas por conta da boa vontade do judiciário.
Agora, surge uma nova moda: transformar a miséria em torcida uniformizada para a Copa.
A realidade pode ser mesmo muito pior do que se pinta. A realidade de brasileiros desfavorecidos socialmente, agora, poderá ser uniformizada com as cores da seleção brasileira, da bandeira do Brasil.
A rede de shoppings Sonae Sierra Brasil, lançou a Campanha do Agasalho 2014, em suas unidades por todo o Brasil. A campanha convida a população a doar peças de roupa, que serão customizadas e coloridas de verde e amarelo. Serão, então, encaminhadas a abrigos, moradores de rua e comunidades carentes do entorno de suas lojas.
O proposta da campanha não resiste a uma mínima análise crítica.
Com efeito, pintar a miséria com as cores do Brasil, não torna o miserável torcedor da seleção brasileira.
Por outro lado, ainda que o miserável esteja recebendo uma doação, obrigá-lo a vestir um agasalho tingido de verde e amarelo é coagir alguém que não tem alternativas cromáticas, a ostentar uma qualidade de engajamento à Copa do Mundo que não pretendia ter. Não há “oportunidade” de conferir a alguém a qualidade de torcedor. O que ocorre é uma triste tentativa de uniformizar a miséria. Higienizar pobres pintando-os de verde e amarelo.
Há um componente irônico e perverso nisso tudo. Shoppings costumam dificultar, quando não barrar ostensivamente, miseráveis que não apresentem vestimentas em boas condições.
Mendigos são discriminados e mal vistos. Uniformizados pela campanha de doação de agasalhos em referência, poderão frequentar os shoppings?
O que se pretende com isso? Mostrar aos turistas que nossos mendigos também são torcedores da seleção?
Carentes de respeito, moradia, atendimento médico, educação, segurança e alimentação, nossos miseráveis representantes do lumpesinato nacional, uniformizados e agasalhados com as cores da nossa bandeira, ficarão felizes?
Confira o vídeo:
Por quê essa empresa não faz uma propaganda para difundir um sentimento de brasilidade e não de ‘futebolidade’, como se futebol fosse mais importante do que defender a pátria dos agressores?
O que o Brasil precisa nos tempos que correm, é de civilidade e educação, sendo que esta deve começar na infância e no lar!
Não está na hora de se iniciar uma grande campanha a respeito? A resposta na consciência de cada um.
Abraços.