Não ganhamos a taça. Porém conferimos sustentabilidade à Copa
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro e Ana Alencar
A Copa do Mundo de 2014 foi um torneio cercado de atenções para com o Meio Ambiente.
Desde a Copa de 2006, na Alemanha, a FIFA tratou de inserir o componente ambiental na organização e gestão do torneio, em articulação com outras ações de cunho social.
No Brasil, além de providenciar um torneio cultural-esportivo e de integração para a juventude (Football For Hope, realizado no Centro Olímpico do Caju, no RJ), a FIFA , em conjunto com o Governo Federal Brasileiro, monitorou e implantou projetos de gestão ambiental cuja escala é de surpreender os mais céticos.
Ambiente Legal destacou nesta matéria três vetores importantes: Gestão dos Resíduos, Certificação dos Estádios e Compensações pela emissão de gases de efeito estufa.
RESÌDUOS:
Cerca de 182 mil toneladas de resíduos recicláveis foram coletados, dentro e nos arredores dos estádios das 12 cidades-sede da Copa do Mundo.
A coleta ocorreu com o apoio de catadores, visando a reciclagem do material. Ao todo, segundo o Ministério do Meio Ambiente, 2 milhões de reais foram investidos na contratação 1500 catadores, nas 12 sedes da Copa. Os catadores trabalharam nas arenas e nas Fan Fests.
O sistema deu resultado, e impressionou o suficiente para estimular a aplicação das linhas governamentais de financiamento à catação, para dar suporte à coleta seletiva nas cidades que não receberam os jogos do mundial. “Estamos financiando uma estrutura de coleta seletiva, com tecnologia de ponta, recicladoras integradas com os catadores que saíram das ruas e agora estão nas fábricas, mudando o patamar de renda”, declarou em entrevista coletiva na cidade do Rio de Janeiro a Ministra Izabella Teixeira.
A coleta seletiva e gestão da reciclagem efetuada na Copa do Mundo, portanto, servirá de modelo para apoiar os entes federados no cumprimento da Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Agora temos um desafio de 5,6 mil municípios, que é um desafio enorme”, comentou a Ministra.
ESTÁDIOS SUSTENTÁVEIS
Os estádios de futebol utilizados na Copa do Mundo foram construídos e geridos nos moldes de um processo de certificação ambiental, certificação essa ainda em andamento e que deve ser concluída até o final do ano.
A iniciativa foi resultado de uma ação governamental inseridas na certificação ambiental de construção e gestão sustentável dos estádios pelo sistema Leadership in Energy and Environmental Design – LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental).
A avaliação envolveu cinco critérios: a construção de arenas de modo sustentável, a alimentação de voluntários por meio de alimentos de agricultura familiar, a reciclagem dos resíduos, a mitigação das emissões de carbono associadas à Copa e o projeto Passaporte Verde, que tem como objetivo a qualidade da cadeia produtiva do turismo. “Faço um balanço muito positivo, que deu muito trabalho, mas sairemos em outro patamar de um evento de grande nível em critérios relacionados ao meio ambiente. Apostar que combater a poluição é caro é coisa do século passado”, disse Izabella Teixeira. O estádio do Maracanã, por exemplo, foi um dos que registrou maior economia de energia e água, com 23% e 71%, respectivamente. “É um aprendizado que ficará disponível ao Rio-2016 e todo o material será entregue ao Comitê Organizador das Olimpíadas”, afirmou a Ministra.
Cinco estádios já foram certificados. O Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, recebeu o selo Platinun, categoria máxima da certificação. A Arena Castelão, em Fortaleza, ganhou a certificação padrão. Já a Arena Fonte Nova, em Salvador, a Arena Pernambuco, no Recife e o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, receberam a certificação prata.
O Estádio Nacional de Brasília, o Estádio Beira Rio, em Porto Alegre e a Arena da Baixada, em Curitiba, estão em fase final de certificação.
Até dezembro todas as arenas da Copa serão certificadas.“Nenhum país fez isso antes e essa certificação compreende vários requisitos como a gestão de resíduos, de empregos mais sustentáveis, eficiência energética, e ventilação natural”, informou a Ministra do Meio Ambiente.
“Um dos legados da Copa é o domínio tecnológico em construção sustentável que o Brasil não tinha nas cidades-sede”, avaliou Izabella Teixeira.
MITIGAÇÃO DAS EMISSÕES
Outra iniciativa da agenda ambiental da Copa foi a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, calculados no padrão de tonelagem de gás carbônico.
Foram calculadas emissões diretas e indiretas, ocorridas durante o evento mundial.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, foram emitidas 1,406 milhão de toneladas de dióxido de carbono indiretamente ligadas ao evento. 98,1% desse total foi gerado pelo transporte aéreo e hospedagem, 0,5% pelas obras e 1,4% por deslocamentos terrestres, serviços e consumo.
Cerca de 60 mil toneladas de dióxido de carbono estão diretamente ligadas aos jogos.
A ministra Izabella Teixeira comemorou o fato de 545 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente, já foram compensadas com reflorestamento e compra de crédito de carbono oriundos de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), nos termos do Protocolo de Quioto.
“Já começamos a Copa do Mundo com as emissões diretas mitigadas. Já mitigamos, voluntariamente nove vezes as emissões diretas da Copa e esperamos chegar, até o final do ano, com todas as emissões mitigadas”, calculou a Ministra.
Assim, se não conquistamos a Copa do mundo com a bola nos pés, fizemos um belíssimo papel no que tange a sustentabilidade ambiental do evento.