Cientistas observaram a ausência de microrganismos que consomem esse gás, indicando que parte dele estaria sendo liberada e entrando na atmosfera — um problema para o aquecimento global.
Em 2011, um grupo de mergulhadores que explorava o mar de Ross, localizado no oceano Antártico, ao sul da Nova Zelândia, viu algo vazando do solo. Cinco anos depois, em 2016, cientistas começaram a investigar o que era o estranho fenômeno e, finalmente, em 2020, veio a descoberta: era o primeiro vazamento de metano observado naquela parte do mundo. A pesquisa foi comandada pela Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos, e publicada nesta quarta-feira (14) no Proceedings of the Royal Society B.
Um vazamento de metano é um local onde a substância, em sua forma gasosa, escapa do reservatório subterrâneo para o oceano. Infiltrações do tipo já haviam sido observadas em outras regiões do mundo, mas nunca na Antártida.
“O metano é o segundo gás mais eficaz no aquecimento de nossa atmosfera e a Antártida tem grandes reservatórios que provavelmente serão liberados à medida que as camadas de gelo diminuírem devido às mudanças climáticas”, disse Andrew Thurber, líder da pesquisa, em comunicado.
Mas, segundo os cientistas, o vazamento não necessariamente está relacionado ao aquecimento global e, por isso, mais investigações são essenciais, principalmente para que se possa compreender melhor como funciona o ciclo do metano. “Esta é uma descoberta significativa que pode ajudar a preencher um grande buraco em nossa compreensão do ciclo do metano”, afirmou Thurber.
Além disso, os cientistas observaram a ausência de microrganismos essenciais para a manutenção do ecossistema. Isso seria um indício de que parte do gás está sendo liberada e entrando na atmosfera, o que poderia agravar o processo de aquecimento global.
“Para aumentar o mistério das infiltrações na Antártida, os microrganismos que encontramos foram os que menos esperávamos ver neste local”, disse Thurber. Ele acredita que talvez exista um padrão de sucessão para micróbios, ou seja, alguns grupos chegam primeiro e os que são mais eficazes em consumir metano surgem depois.
Thurber está particularmente animado porque esta é uma oportunidade única para compreensão de como os ecossistemas evoluem no continente gelado. De acordo com ele, “por causa dessa descoberta agora podemos descobrir se os vazamento funcionam de maneira diferente na Antártida ou se pode levar anos para as comunidades microbianas se adaptarem”.
Fonte: Revista Galileu via Ambiente Brasil
Publicação Ambiente Brasil,23/07/2020
Edição: Ana A. Alencar
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