Por Renato Almeida Barros*
Um barco de madeira inacabado e frágil. Um velho sábio que da leitura e da escrita não conheceu. Cabelos ralos, olhar sereno e triste, mostram a barba branca e farta, buscando esconder o tempo e suas marcas. Franzino, porém forte. Com os pés descalços, cansados e maltratados pela espessa areia exposta ao sol, exibe as canelas finas que ainda lhe sustentam o caminhar. Bondoso, mas de poucos amigos. De dia a pesca. De noite, somente a companhia do som do movimento do mar. Esse é o velho João, que da simplicidade espelhou sua vida até então. Amar seria trair o mar. Moradia, apenas um tapume feio de bambu, sem luz. Assim é o velho João, que fez da crença sua religião. Parentes, notícias não têm. Lembrança, nenhuma. Deitado, cachaça ao lado, a procura do descanso, com a voz grave e sussurrando se pergunta:
De onde vim?
Quem sou?
Para onde vou?
*Renato de Almeida Barros, delegado de polícia, músico e poeta.
Fonte: O autor
Publicação Ambiente Legal, 21/09/2023
Edição: Ana Alves Alencar
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