Em 2019, apenas 17,4% dos resíduos eletrônicos foram coletados e reciclados no mundo. Isso significa que ouro, prata, cobre, platina e outros materiais recuperáveis de alto valor, avaliados em 57 bilhões de dólares foram principalmente descartados ou queimados, em vez de coletados para tratamento e reutilização.
Desde 2014, o número de países que adotaram uma política, legislação ou regulamentação nacional de resíduos eletrônicos aumentou de 61 para 78. Embora seja uma tendência positiva, isso está longe da meta estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) de aumentar para 50% o percentual de países com uma legislação sobre resíduos eletrônicos.
Um recorde de 53,6 milhões de toneladas métricas (Mt) de resíduos eletrônicos foi gerado em todo o mundo em 2019, o que representa um aumento de 21% em apenas cinco anos, de acordo com o Global E-waste Monitor 2020 das Nações Unidas, divulgado na semana passada (2).
O novo relatório também prevê que os resíduos eletrônicos globais – produtos descartados com bateria ou plugue – totalizarão 74 milhões de toneladas em 2030, quase dobrando em apenas 16 anos.
Isso implica os resíduos eletrônicos como a categoria de resíduos domésticos que mais cresce no mundo, alimentada principalmente por maiores taxas de consumo de equipamentos elétricos e eletrônicos, ciclos de vida curtos e poucas opções de reparo.
Em 2019, apenas 17,4% dos resíduos eletrônicos foram coletados e reciclados. Isso significa que ouro, prata, cobre, platina e outros materiais recuperáveis de alto valor, avaliados em 57 bilhões de dólares – um montante superior ao PIB de alguns países – foram principalmente descartados ou queimados, em vez de coletados para tratamento e reutilização.
Segundo o relatório, a Ásia gerou o maior volume de resíduos eletrônicos em 2019 – cerca de 24,9 milhões de toneladas (Mt), seguido pelas Américas (13,1 Mt) e Europa (12 Mt), enquanto África e Oceania geraram 2,9 Mt e 0,7 Mt, respectivamente.
Para efeitos comparativos, os resíduos eletrônicos do ano passado pesavam substancialmente mais do que todos os adultos da Europa, ou 350 navios de cruzeiro do tamanho do Queen Mary 2, o suficiente para formar uma fila de 125 km de comprimento.
Os resíduos eletrônicos são um risco à saúde e ao meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas, como o mercúrio, que danificam o cérebro e/ou o sistema de nervoso humano.
Outras descobertas-chave do Global E-waste Monitor 2020:
• O gerenciamento adequado de resíduos eletrônicos pode ajudar a mitigar o aquecimento global. Em 2019, cerca de 98 Mt de equivalentes de CO2 foram lançados na atmosfera a partir de geladeiras e aparelhos de ar condicionado descartados, contribuindo para aproximadamente 0,3% das emissões globais de gases de efeito estufa.
• Em termos per capita, foram descartados no último ano, em média, 7,3 kg de resíduos eletrônicos para cada homem, mulher e criança na Terra.
• A Europa ocupou o primeiro lugar no mundo em termos de geração de resíduos eletrônicos per capita, com 16,2 kg per capita. A Oceania ficou em segundo lugar (16,1 kg), seguida pelas Américas (13,3 kg). Ásia e África ficaram mais abaixo no ranking, com 5,6 e 2,5 kg, respectivamente.
• O lixo eletrônico é um risco à saúde e ao meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas, como o mercúrio, que danifica o cérebro e/ou o sistema nervoso humano. Estima-se que, anualmente, 50 toneladas de mercúrio – usado em monitores, PCBs e lâmpadas fluorescentes ou de baixo consumo energético – estejam contidas em fluxos não documentados de resíduos eletrônicos.
• Os resíduos eletrônicos de 2019 são compostos principalmente por pequenos equipamentos (17,4 Mt), grandes equipamentos (13,1 Mt) e equipamentos de troca térmica (10,8 Mt). Telas e monitores, pequenos equipamentos de Tecnologias da Informação (TI) e de telecomunicações e lâmpadas representaram 6,7 Mt, 4,7 Mt e 0,9 Mt, respectivamente.
• Desde 2014, as categorias de resíduos eletrônicos que crescem mais rapidamente em termos de peso total são: equipamentos de troca térmica (+7%), equipamentos grandes (+5%), lâmpadas e equipamentos pequenos (+4%). Segundo o relatório, essa tendência é impulsionada pelo crescente consumo desses produtos em países de baixa renda, onde esses produtos tendem a melhorar a qualidade de vida. Pequenos equipamentos de TI e telecomunicações cresceram mais lentamente, e as telas e monitores mostraram uma ligeira queda (-1%), explicada em grande parte pela substituição de telas pesadas e monitores de tubos de raios catódicos (CRT) por telas planas mais leves.
• Desde 2014, o número de países que adotaram uma política, legislação ou regulamentação nacional de resíduos eletrônicos aumentou de 61 para 78. Embora seja uma tendência positiva, isso está longe da meta estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) de aumentar para 50% o percentual de países com uma legislação sobre resíduos eletrônicos.
O Global E-waste Monitor 2020 (www.globalewaste.org) é fruto da parceria da Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos (AMCERE), formada pela Universidade das Nações Unidas (UNU), a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), em estreita colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha também contribuíram substancialmente para o Global E-waste Monitor 2020.
“As conclusões do Global E-waste Monitor deste ano, filiado à UNU, sugerem que a humanidade não está implementando suficientemente os ODS. Esforços substancialmente maiores são urgentemente necessários para garantir que a produção, o consumo e o descarte de resíduos elétricos e eletrônicos sejam mais inteligentes e sustentáveis em escala global. Este relatório contribui fortemente para o senso de urgência em mudar esse perigoso padrão global”, disse David M. Malone, reitor da Universidade das Nações Unidas (UNU) e subsecretário-geral da ONU.
Nikhil Seth, diretor-executivo do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), lembrou que na maior parte do mundo, muito mais resíduos eletrônicos são gerados do que reciclados de maneira segura. “São necessários mais esforços cooperativos para visibilizar esse crescente problema e tomar medidas adequadas, apoiadas por pesquisa e treinamento adequados. Estou satisfeito que o UNITAR agora se junte a esta importante Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos da UNU, ITU e ISWA, ilustrando o quanto essas atividades são valiosas.”
Para Doreen Bogdan-Martin, diretora do Escritório de Desenvolvimento de Telecomunicações da UIT, o Global E-waste Monitor destaca a questão premente do gerenciamento dos resíduos eletrônicos no mundo digitalmente conectado de hoje, no qual a maneira como produzimos, consumimos e descartamos dispositivos eletrônicos se tornou insustentável.
“O monitoramento dos fluxos de resíduos eletrônicos contribuirá para a consecução dos ODS e para o acompanhamento da implementação da Agenda Conectar 2030 da UIT. O Monitor serve como um recurso valioso para que os governos melhorem suas taxas globais de reciclagem de resíduos eletrônicos, desenvolvendo as políticas e a as legislações necessárias/requeridas. A UIT continuará apoiando os esforços feitos neste relatório em direção à resposta global necessária na identificação de soluções para os resíduos eletrônicos.”
Antonis Mavropoulos, presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), lembrou que a quantidade de resíduos eletrônicos está aumentando três vezes mais rápido que a população mundial e 13% mais rápido que o PIB mundial durante os últimos cinco anos.
Segundo ele, esse aumento acentuado cria pressões ambientais e de saúde substanciais e demonstra a urgência de combinar a quarta revolução industrial com a economia circular. “A quarta revolução industrial promoverá uma nova abordagem da economia circular para nossas economias ou estimulará o esgotamento de recursos e novas ondas de poluição. O progresso alcançado no monitoramento de lixo eletrônico pela Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos é um sinal de esperança de que o mundo possa não apenas monitorar de perto o aumento dos resíduos eletrônicos, mas também controlar seus impactos e estabelecer sistemas de gestão adequados.”
Para Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, a reciclagem informal e inadequada de resíduos eletrônicos é um grande risco emergente que afeta silenciosamente nossa saúde e a das gerações futuras.
“Uma em cada quatro crianças está morrendo devido a exposições ambientais evitáveis. Uma em cada quatro crianças pode ser salva se agirmos para proteger sua saúde e garantir um ambiente seguro. A OMS tem o prazer de unir forças neste novo Global E-waste Monitor para permitir que evidências, informações sobre impactos na saúde e soluções e políticas conjuntas sejam disponibilizadas para proteger a saúde de nossas futuras gerações.”
Sobre a Aliança Mundial para o Controle Estatístico de Resíduos Eletrônicos (AMCERE)
A AMCERE ajuda os países a compilar estatísticas nacionais úteis à elaboração de políticas públicas usando uma estrutura de medição harmonizada reconhecida internacionalmente. Reúne os formuladores de políticas públicas, estatísticos e representantes do setor para aprimorar a qualidade, o entendimento e a interpretação dos dados de resíduos eletrônicos.
Globalmente, a aliança contribui para o monitoramento de fluxos de resíduos relevantes, medindo o progresso em direção aos ODS 11.6, 12.4 e 12.5. Permite ainda que organizações internacionais, como a UIT, meçam o progresso em direção a seus objetivos.
Em 2018, a UIT estabeleceu a meta de aumentar a taxa global de reciclagem de resíduos eletrônicos para 30% até 2023 – um aumento de 12,6% em relação à média global de hoje.
Sobre a União Internacional de Telecomunicações (UIT)
A União Internacional de Telecomunicações (UIT) é a agência das Nações Unidas especializada em tecnologias da informação e comunicação (TICs), impulsionando a inovação nas TICs junto a 193 Estados-membros e mais de 900 empresas, universidades e organizações internacionais e regionais associadas.
Fundada há mais de 150 anos, a UIT é o órgão intergovernamental responsável por coordenar o uso global compartilhado do espectro de radiofrequência, promover a cooperação internacional na atribuição de órbitas de satélite, melhorar a infraestrutura de comunicação junto aos países em desenvolvimento e estabelecer as normas mundiais para promover a interconexão contínua de uma vasta gama de sistemas de comunicação.
Desde redes de banda larga a tecnologias sem fio de ponta, navegação aeronáutica e marítima, radioastronomia, monitoramento oceanográfico e terrestre baseado em satélite, bem como tecnologias convergentes de telefonia móvel fixa, Internet e transmissão, a UIT está comprometida em conectar o mundo. Para mais informações, visite: www.itu.int.
Sobre a Universidade das Nações Unidas (UNU)
A UNU é um órgão autônomo da Assembleia Geral da ONU, dedicado a gerar e transferir conhecimento e fortalecer capacidades relevantes às questões globais de segurança humana, desenvolvimento e bem-estar.
A Universidade opera por meio de uma rede mundial de centros e programas de pesquisa e treinamento, coordenada pelo UNU Centro em Tóquio.
O Programa Ciclos Sustentáveis (SCYCLE), sediado em Bonn, na Alemanha, co-organizado pela Vice-Reitoria da UNU na Europa e pelo Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), fornece pesquisas e iniciativas de classe mundial sobre resíduos eletrônicos. O SCYCLE visa permitir que as sociedades reduzam a carga ambiental causada pela produção, consumo e descarte de bens ubíquos.
Sobre o Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR)
Como um braço do Sistema das Nações Unidas dedicado ao treinamento, o Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR) fornece soluções inovadoras de aprendizado para indivíduos, organizações e instituições de modo a aprimorar a tomada de decisões a nível global e apoiar ações em nível nacional para moldar um futuro melhor.
O UNITAR foi criado em 1963 para treinar e equipar jovens diplomatas de Estados-membros da ONU recém-independentes com o conhecimento e as habilidades necessários para navegar pelo ambiente diplomático.
Ao longo dos anos, a UNITAR adquiriu conhecimento e experiência únicos no design e fornecimento de uma variedade de atividades de treinamento. Tornou-se um instituto líder no fornecimento de soluções de aprendizado personalizadas e criativas para instituições e indivíduos dos setores público e privado.
Com uma estratégia totalmente focada em alcançar os ODS, o UNITAR apoia os governos na implementação da Agenda 2030.
Sobre a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA)
A Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) é uma associação global, independente e sem fins lucrativos, que trabalha para o interesse público, promovendo o gerenciamento sustentável, abrangente e profissional dos resíduos e a transição para uma economia circular.
A ISWA está aberta a indivíduos e organizações da comunidade científica, instituições públicas e empresas públicas e privadas de todo o mundo que trabalham no campo ou se interessam pelo gerenciamento de resíduos. A ISWA é a única associação mundial de resíduos que permite que seus membros se conectem com profissionais, empresas e representantes institucionais.
Fonte: ONU via Ambiente Brasil
Publicação Ambiente Legal, 09/07/2020
Edição: Ana A. Alencar