É diferente zelar pela democracia de zerar a democracia.
Por Alfredo Attié*
O Governo Temer tem seus problemas. O mais importante é decorrer de uma crise política e ter de se apoiar no Parlamento, com suas raízes na corrupção.
Nisso, não difere do governo de Dilma, que tinha de fazer a mesma coisa, mas falhou
Dos ajustes, Temer assume a responsabilidade, da qual Dilma fugiu, ao optar por um discurso irreal e prometer medidas que não tinha condição de cumprir.
Temer se aproxima mais de Lula do que de Dilma, ao negociar o apoio parlamentar. Mas não tem mais o acesso aos recursos das propinas do “mensalão” e do “petrolão” – não significa que não venha a ter acesso a outros “-ãos”.
O PT, que regia a “aliança” (cumplicidade, a bem dizer) soube organizar um esquema por meio do qual guardava os recursos e distribuía. E garantia a propaganda.
O PMDB, passando a reger uma “aliança” provisória (diferente e, talvez, precária), ainda não tem o hábito de distribuir os recursos (um pouco a dificuldade do velho coronelismo, se comparado ao novo – nisso a releitura dos clássicos talvez não ajude tanto quanto ler simplesmente Jorge Amado – do qual a gente se recorda, sempre, pensando na velha – isto é, quando era nova – Sonia Braga).
Hoje, há três personagens novas: o juiz, o diplomata e a zeladora.
Dilma foi descobrir sua vocação tarde demais. Precisaria de um curso de adaptação no Pronatec, exatamente no momento em que as verbas para o programa acabaram. Bem ela que havia dito à economista que lhe perguntara sobre emprego naquele debate eleitoral, que procurasse fazer um curso técnico no Pronatec. Puxa, e não é que Dilma também se dizia economista…
Mas, na verdade verdadeira, o que ela busca é um espaço de sobrevivência, não zelando, mas zerando a democracia: “olha, pessoal, tudo o que eu fiz de errado não conta, nem as mentiras que contei; o que conta é que esse novo governo é ilegítimo, porque não houve eleição para presidente e o vice viceia e não pode presidir. E, quando preside, merece destino igual ao meu, pois também cometeu crime de responsabilidade com o orçamento. Mas só ele cometeu, porque eu não tinha responsabilidade nenhuma sobre os decretos, que assinei, as verbas e tudo o mais…”
Não adianta explicar, ninguém entende. O discurso de Dilma é pura mesóclise nas mãos de Temer ( e ele gosta de esfregar as mãos, que nem a personagem velhinha de história em quadrinhos).
Enfim, Dilma compromete a credibilidade dos cursos técnicos no Brasil: já foi gerente, faxineira e, agora, quer ser zeladora.
Os condomínios estão, afinal, tendo problemas sérios com a reivindicação de zeladoras e zeladores, de equiparação salarial com a presidenta afastada.
Como assim, avião da FAB pra visitar a família? É o novo sindicalismo…
*Alfredo Attié, bacharel e mestre em direito, doutor em filosofia (USP), é magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP.
.