Por Marcia Hirota*
Publicado originalmente, em 28 de maio, na Folha de S. Paulo.
No último ano foram desmatados 125 quilômetros quadrados de Mata Atlântica. Não é pouca coisa. Perdemos, a cada hora, uma área de floresta equivalente a 1,5 campo de futebol. Para esse bioma que já teve quase 90% de sua mata original devastada, cada quilômetro quadrado conta muito.
Por outro lado, esse foi o menor desmatamento registrado desde 1985, quando iniciamos o monitoramento do bioma, divulgado a partir de 1992. O que também não é pouca coisa. Quando lançamos o Atlas da Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a floresta era desmatada na velocidade de 12 campos de futebol por hora.
A queda abrupta no índice de desmatamento indica que alguns investimentos para coibir as ameaças ao bioma começam a apresentar seus primeiros resultados. São novas iniciativas e tecnologias que permitem maior controle e fiscalização – por satélite ou em campo; autuação de desmatamentos ilegais; moratórias que suspendem temporariamente à supressão de vegetação; criação e manutenção de áreas protegidas públicas e privadas e até mesmo benefícios para proprietários privados que conservam a vegetação nativa, entre outros.
Indica também que a recessão econômica do último ano provavelmente teve seus impactos na retração das investidas sobre a floresta, apesar de não termos dados consolidados para confirmar tal hipótese. Mas mostra, acima de tudo, que frear o desmatamento na Mata Atlântica é possível – especialmente o ilegal – e que nossa meta de alcançar o desmatamento zero até 2022 é factível.
Dos 17 estados do bioma, sete já estão no nível do desmatamento zero – quando os desflorestamentos ficam em torno de um quilômetro quadrado. São eles: Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo. Os outros 10 continuam com registros inaceitáveis, mas todos com queda em relação ao último ano.
Em um momento político e eleitoral importante para o país, a Mata Atlântica dá o seu recado. E em tempos polarizados como o que vivemos, de pouco diálogo e muito pessimismo, uma notícia positiva como essa é muito bem-vinda. Há oportunidades reais de mudança, desde que para isso haja muita responsabilidade, compromisso coletivo e objetivos em comum.
O fim do desmatamento da Mata Atlântica trata-se disso, um esforço que inclui sociedade civil, academia, proprietários de terras, governos e empresas. Passa também pelo respeito às leis ambientais, como o Código Florestal e a Lei da Mata Atlântica, que muitos setores buscam flexibilizar.
Quando começamos o nosso trabalho, há mais de 30 anos, o tempo era outro. Vivíamos no país um período de abertura política e acompanhamos os primeiros anos de uma Constituição Federal que trazia um capítulo sobre meio ambiente considerado até pouco tempo atrás um dos mais modernos do mundo. Hoje, o cenário é de incertezas e o ritmo de retrocessos.
A redução do desmatamento no último ano nos traz uma mensagem de esperança. Mudar a realidade da Mata Atlântica nos dá a certeza de que é possível mudar a realidade do país. E para melhor.
*Maria Hirota é diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica. Saiba como apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.
Publicado originalmente, em 28 de maio, na Folha de S. Paulo.
Fonte: SOSMA