Revista Ambiente Legal
R e p o r t a g em d e C a p a
A cidade de São Paulo, que um dia já foi cha-
mada de “a terra da garoa”, está provando que tem
muito sol e quer usufruir desse benefício. É que está
perto da conclusão um projeto de lei, de iniciativa do
Executivo, que introduzirá no Código de Obras mu-
nicipal a obrigatoriedade de instalação de coletores
solares em novas edificações. O projeto foi inspirado
em lei que está em vigor em Barcelona (Espanha).
Em São Paulo, a Secretaria Municipal do Verde e
Meio Ambiente, a Abrava e o Instituto Vitae Civilis
estão à frente desse esforço.
“
Não serão todas as edificações que terão de se
submeter a essa obrigatoriedade. Nós estamos fazen-
do esse recorte”, afirma Eduardo Aulicione, assessor
técnico da Secretaria do Verde. “A aprovação da lei
vai ser um grande passo para a cidade e o País”, afir-
ma um dos coordenadores do projeto, o físico Delcio
Rodrigues, do Instituto Vitae Civillis.
Mas outros passos já estão sendo dados para me-
lhorar a qualidade de vida na maior cidade da Améri-
ca Latina. De um lado, alunos de uma escola particu-
lar tradicional. De outro, uma comunidade carente.
Unindo os dois extremos da teia social está a energia
solar. É que desde 2001 estudantes do Colégio Santa
Maria desenvolvem e instalam coletores solares em
moradias de baixa renda. Embora realizado por mãos
jovens, o trabalho não tem nada de amador e 20
equipamentos já estão em pleno funcionamento.
“
Na época do ‘Apagão’ começamos a pesquisar
com nossos alunos qual seria a melhor forma de subs-
tituição da energia elétrica”, recorda a professora de
Matemática, Neuza Bedoni Alves.
Ela contou com a ajuda do marido e engenheiro
Onofre, juntos eles começaram a pesquisar as alter-
nativas. O casal descobriu uma experiência na Uni-
versidade de São Paulo. “Meu marido me convenceu
que seria fácil para as crianças montarem os coletores
solares”. Ele acabou se tornando voluntário no pro-
jeto.
Os R$ 500 necessários para comprar os compo-
nentes são arrecadados em festas e eventos promovi-
dos no colégio. Sob supervisão do marido de Neuza,
os alunos montam os coletores. A instalação acontece
sempre aos sábados, em alguma comunidade caren-
te. Lá, os próprios estudantes sobem nos telhados e
instalam o coletor. Enquanto isso, outro grupo de
alunos explica regras de cuidados com o meio am-
biente para os moradores, que são mobilizados para
o evento.
Produto conquista consumidores de todas as classes
Há um ano a aposentada Jesuita Caetano Bonifá-
cio, 65 anos, moradora em Americanópolis, zona Sul
de São Paulo, foi beneficiada pela iniciativa. Ela conta
que a economia tem sido de cerca de R$ 100,00 em
sua conta de luz. “Com esse valor já dá para comprar
carne de melhor qualidade”, diz com satisfação.
Além da economia no bolso, dona Jesuita aponta
outra vantagem. “É um sistema muito seguro. Quan-
do os meus netos tomam banho na minha casa fico
muito tranqüila porque não tem risco de choque”.
Se dona Jesuíta vibra com o seu coletor, um empre-
sário suíço que não quer ser identificado, também está
muito feliz. É que sua casa é totalmente alimentada pela
energia solar. Localizada no Alto da Boa Vista, zona Sul,
a residência recebeu um investimento de R$ 30
mil para ter telefones, sistema de segurança,
aquecimento e iluminação interna funcio-
nando apenas com energia solar.
O projeto e a instalação foram feitos
pelo engenheiro eletricista Airton Dudze-
vich, da Suprinter Energy, um apaixonado
por energia solar.
Tanto é que ele é o responsável pela im-
plantação de um sistema de maior alcance.
Em Paraty, no Rio de Janeiro, uma comu-
nidade de 136 famílias de pescadores está
sendo abastecida por energia fotovoltaica.
Além das casas, a energia está alimen-
tando 30 postes de iluminação pública e três
centrais de refrigeração. Esses equipamentos
promoveram uma verdadeira revolução na
vida da população.“Com as centrais de re-
frigeração, eles podem armazenar os peixes
e negociá-los com mais tranqüilidade. Antes,
eles não tinham como guardar o produto e
vendiam por qualquer preço”, conta Dudzevich.
Embora feito por estudantes, o coletor solar não tem nada
de amador.
O ‘Apagão’ motivou
a iniciativa de Neuza
e Onofre
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