Revista Ambiente Legal
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A qualificação do pessoal que trabalha com eco-
turismo é, na opinião de muitos especialistas, o maior
problema enfrentado pelo Brasil na disputa com outros
países. “Aqui, praticamente, não temos guias bilíngües”,
diz Cibele, do Bureau de Ecoturismo.
Outro obstáculo apontado é que, normalmente, o
turista estrangeiro fica cerca de uma semana no país e
quer conhecer vários locais. “Internamente, as distân-
cias entre os pontos é um complicador, pois se o turis-
ta quiser conhecer o Pantanal e a Amazônia, em uma
semana, não vai conhecer quase nada porque perderá
muito tempo com deslocamento. Nessa área, nossa in-
fra-estrutura é bastante precária”, ressalta Santos.
Além disso, vôos da Europa e dos Estados Unidos
com destino ao Brasil, que já não eram freqüentes, ca-
íram drasticamente após a crise na Varig e o “apagão”
que toma conta de nossos principais aeroportos. Esses
fatos somados a problemas como violência urbana, am-
plamente mostrados pela mídia internacional, afugen-
tam do país turistas e possíveis investidores.
Lidando com desafios
-
A Associação de Hotéis
Roteiros de Charme., criada em 1992, congrega 40 ho-
Reportagem de capa
Bioalfabetização e visão de longo alcance,
o segredo da Costa Rica
A Costa Rica recebe, anualmente, cerca de 1 mi-
lhão de turistas. O país é pequeno, menor que o es-
tado da Paraíba – são 51 mil quilômetros quadrados
rodeados pelos oceanos Atlântico e Pacífico -, mas a
visão de longo alcance do governo faz toda diferença.
Ali, há meio século, o ecoturismo recebe inves-
timentos pesados. Resultado: a maior parte do ter-
ritório é preservada. São 20 parques nacionais, oito
reservas biológicas e centenas de áreas protegidas. E
o mais importante, a população conhece a fundo a
flora e fauna do país. Além disso, praticamente todos
os habitantes falam espanhol e inglês fluentemente.
Muitos sabem, ainda, um terceiro idioma. Mas na
raiz de todo esse sucesso, está a bioalfabetização, por
meio da qual crianças aprendem, já nos primeiros
anos de instrução, muito a respeito da biodiversidade
nacional.
Por causa disso tudo, o governo brasileiro tem le-
vado operadores de ecoturismo à Costa Rica para que
conheçam como o segmento funciona no país. Ana
Claudia Aveline, diretora da Caá-etê Turismo, que
promove passeios no Parque Nacional Aparados da
Serra, em Santa Catarina, foi uma das contempladas
pelo programa.
Os guias passam informações o tempo todo”,
conta Ana Claudia. “No Brasil, por exemplo, o
ecoturismo focado em caminhadas na mata resu-
me-se em oferecer percursos mais fáceis ou mais
difíceis. Lá as caminhadas vão além. Mesmo as tri-
lhas mais fáceis, a cada dois ou três metros percor-
ridos, o guia dá explicações detalhadas sobre plan-
tas ou animais. Isso não se vê por aqui”, destaca.
Um dos maiores parques da Costa Rica, o In-
bio, é uma espécie de Embrapa a céu aberto. “Mas
enquanto a Embrapa estuda a agropecuária, lá eles
estudam a biodiversidade e compartilham com
todos o conhecimento adquirido”, conta Cláudia.
Aqui não temos nenhum órgão que estude nossa
biodiversidade com todo esse afinco”.
Criado em 1989, o Inbio é uma entidade ci-
vil, sem fins lucrativos, cuja missão é conhecer a
biodiversidade para melhor preservá-la, valorizá-la
economicamente e aproveitar suas oportunidades.
Para atingir esses objetivos, os dirigentes do par-
que trabalham de forma integrada com diversos
órgãos do governo, universidades, empresas e en-
tidades públicas costa-riquenhas e internacionais.
(
RG)
Operadores de ecoturismo têm sido levados pelo governo Brasileiro à Costa Rica para que possam aprender práticas de excelência.
Donald Jiménez / SXC