Revista Ambiente Legal
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A
ndré Cancegliero, 33,
decidiu transformar
sua paixão em negócio. Além de
“
nanocervejeiro”, o engenheiro
mantém um concorrido comércio
de matéria-prima que abastece
toda uma confraria de adoradores da
bebida fermentada.
E l e
t a m -
bém é o
organizador
de dois even-
tos
anuais, o
Home Brew Experience e o
Beer Experience, o primeiro
para cervejas caseiras e o segundo para as especiais. As
caseiras são as feitas em nanocervejarias. Já as especiais
são as bebidas produzidas em escala industrial, mas di-
ferenciadas, com mais sabores e características sensoriais
(
aroma, paladar etc.), mais atrativas para o consumidor.
Leia, a seguir, trechos de entrevista do engenheiro à TV
Ambiente Legal.
Ambiente Legal –
Como anda a cerveja no Brasil?
André Cancegliero -
A cerveja é uma bebida muito
antiga. Estudos mostram que tem mais de 10 mil anos.
Algumas pessoas consideram a cerveja a primeira bebida
alcoólica do mundo, outros o hidromel. No Brasil, nos
últimos cinco anos, a cerveja começou a ser retomada
como a dos primórdios no jeito de se beber. Há 10 anos
ou 15 anos, o brasileiro conhecia só as cervejas pilsen de
massa, como as da Ambev ou Schincariol. Nos últimos
cinco anos, o mercado tem ganhado um pouco mais de
fôlego e novas cervejarias têm surgido. No último ano,
tivemos um boom de quase 29 cervejarias.
Ambiente Legal -
Como tem sido essa expe-
riência, com referência à possibilidade desse mercado
crescer e se diversificar. As barreias sanitárias, de certa
maneira, acabam favorecendo a concentração de cerve-
jarias. Por melhor qualidade que se tenha numa cerveja,
é obvio que a diminuição de opções faz com que você
perca a qualidade na quantidade. Como é que tem sido
essa experiência hoje com o Beer Experience? Como as
pequenas cervejarias estão começando a encontrar seu
nicho de mercado?
Assunto efervescente
André Cancegliero –
Hoje,
no mercado brasileiro há muita
dificuldade para abrir uma cerve-
jaria. É muita adaptação que pre-
cisa ser feita para se regulamentar.
O que acontece é que muitas cerveja-
rias, durante um tempo, trabalham na
i n f o r ma l i d a d e ,
até
sofrer
u m a
i n t e r -
v e n ç ã o
do MAPA
[
Ministério
da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento],
que é quem regulamenta a
produção de cerveja. Existe
um déficit na legislação, porque o MAPA enxerga toda
cervejaria como uma grande marca de cerveja. Você
pega uma AMBEV, que fatura mais de R$ 14 milhões
anualmente em cerveja, e analisa o potencial que esta
empresa tem para se adaptar perante a regulamentação
do MAPA: é muito maior. Por outro lado, um micro
empresário, que está entrando no ramo para fazer uma
cerveja artesanal, tem muita dificuldade de fazer um
aporte de R$ 600 mil a R$ 700 mil, para se adaptar
por conta do MAPA. Na verdade, o MAPA enxerga que
ele é um macro cervejeiro igual à AMBEV. Tem até al-
guns problemas com os planos diretores das cidades, por
exemplo, que não admitem que se monte uma cerveja-
ria no município pela quantidade de efluentes gerados,
porque uma cervejaria, normalmente, tem uma taxa de
efluentes que vai de cinco a dez vezes a produção dela.
Uma macro cervejaria produz uma média de dois mi-
lhões a três milhões de litros de cerveja por dia, ao passo
que uma micro cervejaria produz, na maioria dos casos,
200
mil litros/mês. Na microcervejaria, o coeficiente de
efluentes é mais alto, gira em torno de 10, mas ainda
assim, para os 200 mil litros de cerveja/mês gerará 2
milhões de litros de efluentes, bem menos que os 15
milhões de uma macrocervejaria, que certamente sobre-
carregariam o sistema de esgoto da cidade. Acredito que
não deveria estar na mesma legislação.
Ambiente Legal -
Quer dizer que no tratar
igualmente os desiguais você acaba piorando a situação
de desigualdade?
André Cancegliero -
Sim, exatamente, e como hoje
O nanocervejeiro André Cancegliero, durante o evento Home Brew Experience
Foto: Danielle Denny